SAINT-MARTIN (SMTN, XIV) – SER
De fato, a palavra hebraica *arubboth*, embora signifique cataratas, segundo a letra, não é, segundo os mesmos Intérpretes, um derivado do Verbo *rabab*, ou *raba*, que quer dizer, foi multiplicado? Então o texto apresenta a ideia natural de uma ação mais estendida no Agente que produz a água, e de modo algum a do simples escoamento de uma água antes existente; porque então haveria somente união, agregação, e não se veria o ato de um *Ser* vivo que cria e que multiplica. Quadro natural…: XIV
Os Observadores também contestaram a existência dessa *Arca* célebre, construída por ordem suprema, para conservar um rebento da raça humana. Seja qual for essa *Arca*, como *ela* representava o *Universo*, *ela* deve ter *nele* contido, seja em natureza, seja em princípios, todos os *Agentes* e todas as faculdades que o compõem; e se essas coisas parecem inexplicáveis ao homem que caminha sem a lei, *elas* não o são mais para aquele que a conhece, e que tem a ideia que deve ter de *sua* grandeza e dos direitos de *seu Ser*. Quadro natural…: XIV
Aconteceu com a espécie geral do homem o mesmo que com *seus* indivíduos. Nada mais puro que os primeiros raios de luz dos quais *nosso Ser* é iluminado, quando começa a ser suscetível de *os* receber; logo esses raios preciosos *se* encontram detidos, muitas vezes até obscurecidos por paixões tempestuosas, que fazem o homem perder até a lembrança dessas primeiras *favas* de inteligência que *ele* havia provado ao sair da infância: mas logo também *o* vemos *se* libertar dessas amarras para *se* elevar às regiões das ciências e da razão e caminhar em sendas imensas de luz e de verdades, que *se* estendendo cada dia diante de *seus* olhos vão *se* perder no infinito. Quadro natural…: XIV
É por uma sequência desse crescimento progressivo que, em meio às prevaricações e à dispersão dos antigos *Povos*, um *Justo* é escolhido entre os caldeus para ser o depositário do conhecimento das diferentes leis naturais ao *nosso Ser*. Este *Justo* é tirado da cidade de *Ur*, que em hebraico significa luz, para *nos* recordar a emanação do primeiro homem e de toda *sua* espécie, que nasceu no seio da própria verdade, e que pertence e corresponde por *sua* natureza, ao centro universal da *Vida*. Quadro natural…: XIV
Eis porque na origem, foi permitido desposar a própria irmã, embora depois os homens não pudessem formar aliança senão no quarto grau de parentesco, porque esse número sendo o da ação universal, dá a um mesmo sangue o tempo de *se* renovar, e demonstra ao homem que *seu Ser* intelectual ou quaternário deve ser o ordenador de todas as *suas* faculdades. Quadro natural…: XIV
Depois das promessas gloriosas que foram feitas ao primeiro *Chefe* do *Povo* escolhido, pode-se facilmente reconhecer neste homem *Justo*, em *seu* Filho *ISAQUE*, e em *seu* neto *Jacó*, a expressão sucessiva e subdividida das três faculdades supremas das quais *ele* havia recebido os sinais ao mesmo tempo, e que servem de tipo àquelas que a alma humana manifesta. *Ele* mesmo demonstra visivelmente o pensamento, pelo lugar de *sua* eleição que *o* tornou o primeiro depositário dos desígnios do grande *Ser* sobre a posteridade dos homens: *seu* filho é o emblema da vontade, pelo sacrifício livre que1 *ele* faz de *seu* indivíduo: e o filho de *seu* filho anuncia a ação pelo combate que *ele* trava contra o *Anjo*, e pela numerosa família que dele sai. Aqui a liberdade da inteligência não poderia *se* estender; ver em *Rebeca* a imagem do mundo sensível; e por essas duas crianças que combatem em *seu* seio, reconhecer a imagem do homem, e desse irmão mais velho, *seu* inimigo, com o qual *ele* está aprisionado no universo? Quadro natural…: XIV
Mas *ele* vê aparecer um *Agente* célebre, escapado como *Criança* dos Hebreus, à crueldade do *Rei* do *Egito* ou a essas *virtudes* impuras que se opõem aos primeiros esforços do *nosso Ser* pensante, e que só trabalham para *o* impedir de retomar *sua* liberdade. Este *agente* célebre flutua como o homem sobre as águas do abismo, preservado de *seu* *redemoinho* por um *berço*, como o homem o é pelas *virtudes* de *seu* corpo, elevado, dirigido por um *Instituidor* fiel, como o homem o seria sempre, se *ele* fosse ativo e dócil: enfim, encarregado como *ele* de zelar pelo restabelecimento da ordem e da destruição da iniquidade. Quadro natural…: XIV
Este segundo quadro *nos* ensina ainda que as substâncias corruptíveis do sangue são os verdadeiros entraves que retêm o homem no sofrimento, e que é pela ruptura desses laços, ou pela separação de *seu Ser* intelectual do sangue, que *ele* recupera alguma liberdade; o que já havia sido indicado pelo espírito do preceito da circuncisão; o que o foi em seguida pela proibição feita ao *Povo* de comer sangue, porque a vida da carne estava no sangue, e que a alma da carne havia sido dada aos Hebreus, ou aos homens para a expiação de *sua* alma. Expressões bastante claras para justificar o *Legislador* dos Hebreus da censura que muitos *lhe* fizeram de não ter distinguido no homem um *ser* diferente do *Ser* sensível. Quadro natural…: XIV
Ao contrário, as segundas *Tábuas* *nos* são bem dadas pelo *Escritor*, como tendo sido escritas pela mão de *Deus*, assim como as primeiras: mas a diferença que *se* encontrava entre *elas*, é que as últimas haviam sido talhadas pela mão do homem, e que é sobre esta obra do homem que o *Ser* necessário, cheio de amor por *suas* produções, *se* dignou ainda gravar *seu* selo e *sua* convenção, como *ele* o havia feito sobre a substância pura da qual as primeiras *Tábuas* eram a imagem: de modo que a lei do homem não sendo hoje gravada em *sua* matéria natural, opera *nele* esse estado violento e doloroso que todos os homens experimentam, quando buscam essa lei com sinceridade, e que *se* aproximam *dela*; porque esses sofrimentos e essa irritação são inevitáveis entre *seres* heterogêneos. Quadro natural…: XIV
É sempre em lugares elevados que esses grandes fatos *nos* são apresentados; em lugares onde o ar sendo mais puro, parece comunicar a todo o *nosso Ser*, influências mais salutares, e uma existência mais conforme à *nossa* natureza e à *nossa* primeira destinação. Quadro natural…: XIV
