FABRE D'OLIVET (TANNER) – TEMPO
ATFO
Passemos agora às diversas modificações que os verbos (hebraicos) experimentam em relação ao *Tempo*. Se eu quisesse, antes de ver quais são essas modificações, examinar… como *Harris* e alguns outros gramáticos, a natureza desse ser incompreensível que as causa, o *Tempo*, que dificuldade não teria para desenvolver ideias desconhecidas, que não poderia apoiar em nada sensível! Pois como o *Tempo* poderia afetar nossos órgãos materiais, se, *passado*, já não é; *futuro*, ainda não é; *presente*, está encerrado em um instante indivisível? O *Tempo* é um enigma indecifrável para quem se limita ao círculo das sensações; e no entanto, são as sensações que lhe dão uma existência relativa. Se elas não existissem, o que seria ele?
Ele é uma *Medida da vida*. Mude a vida, e você mudará o *Tempo*. Dê outro movimento à matéria, e você terá outro *espaço*. O *espaço* e o *Tempo* são coisas análogas. Lá, é a matéria que se move; aqui, é a vida. O homem, ser inteligente e sensível, conhece a matéria por seus órgãos corpóreos, mas não pelos da inteligência; tem o sentimento intelectual da vida, mas não a apreende. Por isso, o *espaço* e o *Tempo*, dos quais parece tão próximo, permanecem-lhe desconhecidos. Para conhecê-los, seria preciso despertar nele uma terceira faculdade, que, apoiando-se ao mesmo tempo nas sensações e no sentimento, e iluminando-se tanto pelas luzes físicas quanto mentais, reunisse em si as faculdades separadas. Então, um novo universo se revelaria a seus olhos; então, sondaria as profundezas do *espaço*, apreenderia a essência fugaz do *Tempo*; conhecer-se-ia em sua dupla natureza.
Se me perguntassem se essa terceira faculdade existe, ou mesmo se pode existir, diria que é aquela que *Sócrates* chamava de *Ciência*, e à qual atribuía o poder da virtude.
Mas, seja qual for enfim o *Tempo*, detive-me um momento sobre sua natureza, e só fiz sentir sua profunda obscuridade para dar a entender que todos os povos, não o tendo encarado da mesma maneira, não podiam ter experimentado os mesmos efeitos. Assim, longe estão todos os idiomas de flexionar seus verbos no mesmo número de tempos, e sobretudo de lhes atribuir os mesmos limites.
As línguas modernas da Europa são muito ricas a esse respeito, mas devem essa Riqueza, primeiro, ao grande número de idiomas dos quais recolheram os vestígios e dos quais se compuseram insensivelmente; depois, ao curso do espírito humano, cujas ideias, acumulando-se com os séculos, purificam-se cada vez mais pelo atrito e desenvolvem-se em perfeição. É algo digno de nota, e que está intimamente ligado à história do gênero humano, que as línguas do norte da Europa, aquelas das quais derivam esses idiomas hoje tão ricos em modificações temporais, tinham em sua origem apenas dois tempos simples, o *presente* e o *passado*: faltava-lhes o *futuro*; enquanto as línguas da Ásia ocidental, que parecem originárias da África, careciam de *presente*, tendo igualmente apenas dois tempos simples, o *passado* e o *futuro*. (…)
Há três cores principais na luz, assim como três tempos principais no *Verbo*. A Arte do pintor consiste em saber distinguir essas cores principais — *azul, vermelho* e *amarelo* — das cores medianas — *violeta, aurora* e *verde* — e essas cores medianas das cores impostas e das nuances infinitas que podem nascer de suas misturas. A *palavra* é um meio de pintar o pensamento. Os tempos do *Verbo* são as luzes coloridas do quadro. Quanto mais rica é a paleta verbal em nuances, mais um povo dá asas à sua imaginação. Cada escritor faz uso dessa paleta conforme seu gênio. É na maneira delicada de compor as nuances e de misturá-las que pintores e escritores igualmente se distinguem.
Sabe-se bem que os pintores antigos ignoravam a arte das nuances e meias-tintas. Usavam as cores primitivas sem misturá-las. Um quadro composto de quatro cores passava por um milagre da arte. As cores da palavra não eram mais variadas. Essas nuances da luz verbal, que chamamos de *tempos compostos*, eram desconhecidas. (*Histoire philosophique*)
