CRISTOLOGIA

ATFO

O homem, dotado em princípio de todas as forças, faculdades e meios de que pode ser revestido posteriormente, não possui em ato nenhuma dessas coisas quando aparece à luz. É fraco, débil e desprovido de tudo. (…)

Não posso repetir demais: feliz se conseguir me fazer compreender! O homem é um germe Divino que se desenvolve pela reação de seus sentidos. Tudo é inato nele, tudo: o que recebe do exterior é apenas a ocasião de suas ideias, e não as ideias mesmas. É uma planta, como disse, que produz pensamentos, como uma roseira produz rosas e uma macieira, maçãs. Ambos precisam de reação. Mas será que a água ou o ar, dos quais a roseira ou a macieira tiram seu nutrimento, têm alguma relação com a essência íntima da rosa ou da maçã? Nenhuma. São indiferentes a elas e fazem crescer igualmente urtigas ou bagas venenosas de meimendro, se o germe for oferecido à sua ação numa situação conveniente. Assim, embora o homem tenha recebido em sua origem uma Centelha do Verbo divino, não traz consigo para a terra uma língua totalmente formada. Ele guarda em si o princípio da palavra em potência, mas não em ato. Para que fale, é preciso que tenha sentido a necessidade de falar, que o tenha desejado fortemente; pois é uma das operações mais difíceis de seu entendimento. Enquanto vive isolado e puramente instintivo, não fala (…).

Mas, a partir do momento em que entra no estado social… mil circunstâncias que se acumulam ao seu redor tornam-lhe necessário algum tipo de linguagem: precisa de um meio de comunicação entre suas ideias e as de sua companheira. Quer fazer-lhe conhecer seus desejos e, sobretudo, suas esperanças; pois, desde que tem orgulho, tem também esperanças; e sua companheira está tanto mais ansiosa por comunicar-lhe as suas quanto sua vaidade, mais ativa e circunscrita, lhas sugere com mais frequência e em maior número. (*Histoire philosophique du genre humain*)