CRISTOLOGIA

ATFO

Embora soubesse muito bem que, em tudo o que diz respeito às ideias morais e religiosas, o Filho do corso Bonaparte não passava de um homem muito comum e mesmo muito pequeno, não podia ignorar que, como político e sobretudo como guerreiro, a natureza o dotara de talentos notáveis. Via sua cabeça interiormente dividida entre o preto e o branco, a obscuridade e a luz; de modo que certas qualidades, constantemente iluminadas, impressionavam pela permanência de seu brilho e pareciam ganhar grandeza à Medida que se as observava, enquanto outras, mergulhadas numa névoa tenebrosa, permaneciam inertes e, por sua pequenez e imobilidade, escapavam aos olhares distraídos ou repeliam os olhos suficientemente firmes para fixá-las. Fiz várias tentativas para levar a luz à parte obscura de seu ser e reconduzi-lo à moral e à justiça, das quais seus passos — tanto mais convulsivos e gigantescos — o afastavam. Meus esforços foram em vão, e seu ódio, que eu julgava desgastado pelo tempo, mostrou-se aos meus olhos mais implacável do que nunca. Encontrava-me, pois, novamente obrigado a dissimular para evitar uma tempestade que não estava em condições de enfrentar.