CRISTOLOGIA

ATFO

Os tempos não são mais aqueles em que as verdades mais simples não podiam mostrar-se sem véus. As ciências físicas e matemáticas deram, entre nós, passos tão grandes; puseram tão a descoberto os segredos resortes do Universo, que não é mais permitido às ciências morais e metafísicas arrastar-se em seu rastro, cobertas com as faixas da infância. É preciso que a harmonia, rompida entre esses dois ramos principais dos conhecimentos humanos, se restabeleça. É que os sábios, chamados a conhecer a Natureza em seu duplo santuário, devem tentar fazê-lo com a prudência e os cuidados necessários; pois toda divulgação tem limites que é preciso saber respeitar. (…)

Graças à tradução que dou do *Sépher*, Moisés não será mais o escolho da razão e o espanto das ciências naturais. Não se verá mais em sua Cosmogonia essas contradições chocantes, essas incoerências, essas imagens ridículas, que forneciam armas tão terríveis a seus inimigos. Não se verá mais nele um homem limitado, atribuindo ao Ser dos seres as visões e as paixões mais estreitas, recusando ao homem sua imortalidade, e nunca falando senão da alma que se escoa com o sangue; mas um sábio, iniciado em todos os mistérios da Natureza, unindo às luzes positivas que hauriu nos santuários de Tebas as luzes de sua própria inspiração. Se o naturalista o interrogar, encontrará em sua obra as observações acumuladas de uma série incalculável de séculos e toda a física dos egípcios resumida em poucas palavras: poderá comparar essa importante física à dos modernos, e JULGAR em que uma se assemelha à outra, a supera ou lhe é inferior. O metafísico nada terá a lhe opor, pois a metafísica não nasceu entre nós. Mas é o filósofo sobretudo que descobrirá em seu livro analogias dignas de sua curiosidade. Se o quiser, esse livro se tornará em suas mãos um verdadeiro Critério, uma pedra de toque, por meio da qual poderá reconhecer, em qualquer sistema de filosofia que seja, o que esse sistema encerra de verdadeiro ou de falso. Encontrará enfim o que os filósofos pensaram de mais justo ou sublime, desde Tales e Pitágoras até Newton e Kant.