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FABRE D'OLIVET (TANNER) – PRINCÍPIO DA PALAVRA

ATFO

Ouso lisonjear-me de que o Leitor que me tiver seguido com a devida atenção, chegando a este ponto de minha *Gramática*, não verá mais nas línguas dos homens instituições arbitrárias, nem na *Palavra* uma produção fortuita, devida apenas ao mecanismo dos órgãos. Nada de arbitrário, nada de fortuito, marcha com essa regularidade, desenvolve-se com essa constância. É verdade que, sem órgãos, o homem não falaria; mas o *princípio da Palavra* não deixaria de existir independente, sempre pronto a se modificar quando órgãos suscetíveis dessa modificação se apresentassem. Tanto o *princípio* quanto os *órgãos* são igualmente dados. Mas um existe imutável, eterno, na essência divina; os outros, mais ou menos perfeitos conforme o estado temporal da substância da qual são tirados, apresentam a esse princípio focos mais ou menos homogêneos, e o refletem com maior ou menor pureza. Assim, a luz atinge o cristal destinado a recebê-la e nele se refrata com uma energia análoga ao polimento de sua superfície. Quanto mais puro o cristal, mais brilhante ela se mostra. Uma superfície áspera, suja ou enegrecida só reflete um brilho incerto, sombrio ou nulo. A luz permanece imutável, embora seu brilho refratado possa variar infinitamente. Assim se comporta o *princípio da Palavra*. Sempre o mesmo em sua essência, indica, no entanto, em seus efeitos, o estado orgânico do homem. Quanto mais esse estado adquire perfeições — e ele as adquire sem cessar —, mais a *Palavra* encontra facilidade para desdobrar suas belezas.

À Medida que os séculos avançam, tudo marcha para seu aperfeiçoamento. As línguas experimentam, a esse respeito, as vicissitudes de todas as coisas. Dependentes dos órgãos quanto à forma, são independentes quanto ao princípio. Ora, esse princípio tende à *unidade* da qual emana. A *multiplicidade* dos idiomas acusa a imperfeição dos órgãos, pois se opõe à manifestação dessa unidade. Se o homem fosse perfeito, se seus órgãos tivessem adquirido toda a perfeição de que são suscetíveis, uma única língua seria entendida e falada de uma extremidade à outra da Terra.

Sinto que essa ideia, por mais verdadeira que seja, parecerá paradoxal; mas, quando a verdade se apresenta sob uma pena, não sei repelir.

Entre várias línguas simples que se me ofereceram, escolhi a *hebraica* para seguir seus desenvolvimentos e torná-los sensíveis. Embora nada tenha negligenciado para ensinar o material desse idioma antigo, confesso que meu principal objetivo foi dar a conhecer seu *gênio* e incitar o Leitor a transportá-lo a outros estudos. Pois o *Signo*, sobre o qual ergui meu edifício gramatical, é a base única sobre a qual repousam todas as línguas do mundo.

O *signo* decorre diretamente do *princípio eterno da Palavra*, emanado da Divindade; e se não se apresenta em toda parte sob a mesma forma e com os mesmos atributos, é porque os órgãos encarregados de produzi-lo externamente não só não são os mesmos em todos os povos, em todas as épocas, sob todos os climas, mas também recebem um impulso que o espírito humano modifica conforme seu estado temporal.

O *signo* limita-se às inflexões simples da voz. Há tantos signos quanto inflexões possíveis. Essas inflexões são em pequeno número. Os povos que as distinguiram de suas combinações diversas, representando-as por caracteres suscetíveis de se ligarem entre si, como se vê no alfabeto literal que possuímos, aceleraram o aperfeiçoamento da linguagem, no que diz respeito às formas externas; aqueles que, confundindo-as com essas mesmas combinações, lhes aplicaram uma série indefinida de caracteres compostos, como se vê entre os chineses, aperfeiçoaram suas imagens internas. Os egípcios, que possuíam ao mesmo tempo o *signo literal* e a *combinação hieroglífica*, deviam ser, como de fato eram, para o estado temporal das coisas, o povo mais esclarecido do mundo.

As diversas combinações dos *signos* entre si constituem as *raízes*.

As *raízes* são todas monossilábicas. Seu número é limitado; pois nunca pode ultrapassar as combinações possíveis entre dois *signos consonantais* e no máximo uma vogal. Em sua origem, apresentam apenas uma ideia vaga e genérica, aplicando-se a todas as coisas de uma mesma forma, espécie ou natureza. É sempre por uma restrição do pensamento que se particularizam. *Platão*, que considerava as ideias gerais como preexistentes, anteriores às particulares, tinha razão mesmo em relação à formação das palavras que as exprimem. A *vegetação* concebe-se antes do *vegetal*, o *vegetal* antes da *árvore*, a *árvore* antes do *carvalho*, o *carvalho* antes de todas as espécies particulares. Vê-se a *animalidade* antes do *animal*, o *animal* antes do *quadrúpede*, o *quadrúpede* antes do *lobo*, o *lobo* antes da *raposa* ou do *cão*, e suas diversas raças.

No momento mesmo em que o *signo* dá nascimento à *raiz*, produz também a *relação*.

As ideias particulares que se distinguem das gerais aglomeram-se em torno das raízes primitivas, que desde então se tornam *idiomáticas*, recebem as modificações do *signo*, combinam-se entre si e formam essa multidão de *palavras* que os diversos idiomas compartilham.

No entanto, o *Verbo único*, até então subentendido, apropria-se de uma forma análoga à sua essência e aparece no discurso. Nessa época, uma revolução brilhante ocorre na *palavra*. Mal o espírito do homem a sente, já está penetrado por ela. A *substância* se inflama. A *vida verbal* circula. Mil nomes que ela anima tornam-se *verbos particulares*.

Assim, a *Palavra* divide-se em *substância* e *verbo*. A *substância* distingue-se pelo *gênero* e pelo *número*, pela *qualidade* “Chamo *qualidade*, nos nomes hebraicos, a distinção que estabeleço entre eles, e por meio da qual os divido em quatro classes: os *Substantivos*, os *Qualificativos*, os *Modificativos* e os *Facultativos*.” e pelo *movimento* “Chamo *movimento*, nos nomes hebraicos, essa modificação acidental que os artigos lhes fazem experimentar.”. O *verbo* deixa-se afetar pelo *movimento* e pela *forma*, pelo *tempo* e pela *pessoa*. Presta-se às diferentes afecções da *vontade*. O *signo*, que transmite toda sua força à *relação*, liga essas duas partes do discurso, dirige-as em seus movimentos e as constrói.

Tudo depende, então, do *estado temporal* das coisas. Primeiro, mil idiomas dominam em mil pontos da Terra. Todos têm sua fisionomia local. Todos têm seu *gênio* particular. Mas a *Natureza*, obedecendo ao impulso que recebe do *Ser dos seres*, marcha para a *unidade*. Os povos, impelidos uns contra os outros, como as ondas do oceano, chocam-se e misturam-se, confundindo seu idioma natal. Forma-se uma língua mais extensa. Essa língua enriquece-se, colora-se, propaga-se. Os sons suavizam-se pelo atrito. As expressões tornam-se numerosas, elegantes, energéticas. O pensamento desenvolve-se nela com facilidade. O *gênio* encontra nela um instrumento dócil. Mas uma, duas, três línguas rivais igualmente se formam; o movimento que leva à *unidade* continua. Só que, no meio de algumas fracas tribos que se chocam, são agora nações inteiras cujas ondas, transbordando, espalham-se do norte ao sul e do oriente ao ocidente. As línguas quebram-se como as existências políticas. Sua fusão ocorre. Sobre seus destroços mútuos erguem-se outras nações e outras línguas, cada vez mais extensas; até que, enfim, uma única nação domine, cuja língua, enriquecida com todas as descobertas das eras passadas, filha e justa herdeira de todos os idiomas do mundo, propague-se de perto em perto e invada a Terra.

Ó França! Ó minha Pátria! Estás destinada a tanta glória? Tua língua, sagrada para todos os homens, recebeu do céu força suficiente para reconduzi-los à *unidade da Palavra*? Esse é o segredo da Providência.

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