FABRE D'OLIVET (TANNER) – A LÍNGUA HEBRAICA ESTÁ PERDIDA
ATFO
Ao escolher a língua hebraica, não me iludi sobre nenhuma das dificuldades, nenhum dos perigos aos quais me expunha. Alguma compreensão da *Palavra* e das línguas em geral, e o movimento incomum que imprimi a meus estudos, haviam-me convencido há muito tempo de que a língua hebraica estava perdida e de que a Bíblia que possuíamos estava longe de ser a tradução exata do *Sépher* de Moisés. Chegando a esse *Sépher* original por outras vias que não as dos gregos e latinos, levado do oriente ao ocidente da Ásia por um impulso contrário ao que se segue habitualmente na exploração das línguas, percebi claramente que a maioria das interpretações vulgares era falsa e que, para restituir a língua de Moisés em sua gramática primitiva, teria de chocar violentamente preconceitos científicos ou religiosos que o hábito, o orgulho, o interesse, a ferrugem das eras, o respeito que se liga aos erros antigos, concorriam para consagrar, reforçar e conservar. (…)
Insistamos nessa importante verdade: a língua hebraica, já corrompida por um povo grosseiro, e de intelectual que era em sua origem, reduzida a seus elementos mais materiais, foi inteiramente perdida após o exílio da Babilônia. É um fato histórico do qual é impossível duvidar, por mais cético que se seja. A Bíblia o mostra Nehem., c. 8.; o Talmude o afirma Thalm., Devot., c. 4.; é a opinião dos mais famosos rabinos; Walton não pode negá-lo; o melhor crítico que escreveu sobre esse assunto, Richard Simon, não se cansa de repeti-lo. Assim, cerca de seis séculos antes de Cristo, os hebreus, tornados Judeus, não falavam mais nem entendiam sua língua originária. Serviam-se de um dialeto siríaco, chamado aramaico, formado pela reunião de vários idiomas da Assíria e da Fenícia.
