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Madame Guyon (MGTP) – Deus Pai e a vida de seu Verbo

Figuras escriturárias da purificação (MGTP)

É preciso saber, portanto, que Deus Pai não pôde comunicar outra vida a todos os seres possíveis senão a vida de seu Verbo, emanada de si mesmo. De modo que, assim como tudo é produzido e feito pelo Verbo e nenhum ser pode ser criado sem que seja necessariamente um escoamento desse Verbo, todos aqueles que tiverem a felicidade de viver da vida divina se encontrarão agradavelmente reunidos com esta única vida do Verbo na unidade de Deus somente, com tanto mais agrado e profundidade quanto mais lugar tiverem dado a esta vida imensa do Verbo para se estender neles. De sorte que a extensão desta vida do Verbo na alma será a extensão da beatitude desta criatura. Esta vida do Verbo, tendo por sua natureza uma imensidade perfeita, quando a alma a restringe por alguma propriedade, a vida do Verbo está nela como em um estado violento. Mas quando a propriedade é retirada, esta vida se estende mais ou menos segundo essa propriedade ser perfeitamente arrancada e haver menos obstáculos, dilatando a alma por sua virtude à medida que se comunica a ela. E quanto mais esta alma se estende, mais o Verbo se escoa abundantemente nela. De maneira que nos bem-aventurados não haverá nenhuma resistência que impeça este escoamento da vida do Verbo neles. O que fará com que todos os santos, tendo uma só e mesma vida, participem do comércio inefável da Trindade, pelo qual esta vida do Verbo se escoará sempre mais neles, sem que a eternidade possa esgotá-la. E como estarão sem propriedade, esta mesma vida do Verbo os fará sempre escoar na unidade de Deus somente, como ela mesma se escoa incessantemente ao nascer incessantemente, e recaindo incessantemente, de sorte que não há o menor instante entre a recepção da vida do Pai comunicada ao Verbo e esta mesma vida do Verbo recaindo no Pai. Toda a eternidade fez e fará este fluxo e refluxo igual e infinito que, não tendo nem começo nem fim, nem interrupção, faz uma igualdade perfeita entre a pessoa que comunica e aquela a quem é comunicado. O Verbo, portanto, não recebe nada que não comunique. E embora, como pessoa, seja verdade dizer que recebe tudo do Pai e que nada possui que não lhe seja comunicado do Pai na unidade de essência, todavia, é também princípio das comunicações que recebe, sem que haja um instante de divisão entre a recepção e sua comunicação. Porque recebendo tudo de Deus Pai, que se comunica ao Verbo sem reservas, ele rende tudo a esse Pai sem reservas. E, ao render e receber, recai nele em unidade de princípio, para produzir um Deus tão grande e em tudo igual a esse único princípio. Porque rende tudo o que lhe é dado, tudo se encontra consumido em uma única e divina essência que permanece sempre uma, embora as comunicações necessárias em Deus façam incessante e necessariamente a distinção muito real, sem que haja qualquer instante entre a unidade da essência e a trindade das pessoas. A unidade não precedeu a trindade, nem a trindade é outra que a unidade, embora as pessoas da trindade na unidade de um mesmo Deus sejam verdadeiramente distintas. De modo que essa unidade e trindade em suas operações internas sempre foi, é e será a mesma (…).

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