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LOGION 102

Pla

Jesus disse: Ai daqueles, os fariseus, pois se parecem a um cachorro que está deitado sobre o presépio dos bois! Nem come, nem deixa comer aos bois.

Puech

102. Jésus a dit : Malheur à eux, les Pharisiens, car ils ressemblent à un chien qui est couché sur la mangeoire des bœufs, car ni il ne mange ni il ne laisse les bœufs manger.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 pauvres d’eux les pharisiens, 3 parce qu’ils ressemblent à un chien 4 dormant dans la mangeoire des bœufs, 5 car il ne mange 6 ni ne laisse les bœufs manger.

Meyer

102 Jesus said, “Woe to the Pharisees, for they are like a dog sleeping in the cattle manger, for it does not eat or the cattle eat.” [Cf. Matthew 23:13 (Q); Luke 11:52 (Q);

Comentários

Roberto Pla

Segundo a Boa Nova há duas classes de alimento: o alimento perecível que não preserva da morte ao que come, e o alimento que permanece e faz permanecer para a Vida eterna, feito com trigo dos céus, e que só o dá o Filho do homem.

*Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo. (Jo 6,27)*

Deste alimento que traz a transformação da consciência em espírito, e pela qual é possível passar da morte à Vida, fala agora Jesus o Vivente.

O presépio é figura do caixote onde o Espírito, em função do selo de Deus, deposita seu unguento para que a alma alcance sua consumação, que consiste em ser essência de si mesma. O unguento que proporciona o Espírito é o alimento que não morre nem admite a morte, a presença que cada um há de descobrir, pois é a unção da que há que alimentar-se.

Mas a presença deve ser sustentada no entendimento com ordem paciente e estável, até que ela, que só conhece quando é conhecida, abandone sua primeira condição de presença mal conhecida como em uma espelho que reflete a Glória do Senhor, para vir a se a Glória assentada na consciência que a conhece.

*Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido. (1Cor 13,12)*

Como diz Jesus no quarto evangelho, estas são as obras de Deus que se há de trabalhar: a primeira obra é crer nessa presença que é um “enviado” que anuncia o Pai. “Crer” é o sinal, posto que é a obra; o pão do céu, que não é o que deu Moisés no deserto, senão o que dá o Pai.

*Perguntaram-lhe, pois: Que havemos de fazer para praticarmos as obras de Deus? Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou. (Jo 6,28-29)*

Por isso diz Jesus, o Cristo manifesto e oculto: “Eu sou o pão da Vida”, pois ele é Cristo imanente e transcendente do “homem em Cristo”, o que difunde o maná que vem do céu. Para dar este pão como alimento está sempre Cristo nas dobras da presença, para fazer-se manifesto nos homens que o buscam, Jesus o explica: “Esta é a vontade de meu Pai: que todo o que veja ao Filho e nele creia, tenha vida eterna”.

O que diz Jesus é que essa presença se vê à princípio borrada, como se se a olhasse detrás de um véu; mas logo vem um longo trabalho, profundo, que há que fazer com a presença até que se descobre nela ao ungido do Senhor.

Esse é o caminho feito de bem-aventurança, do já não sentir temor ante o aguilhão da morte, da alegria pura e completa que advém cada vez que a alma recorda a presença e a levanta em si mesma, quer dizer, cada vez que a conhece e, em contrapartida, é conhecida por ela.

Da presença fala Lucas quando diz: Com ele estava o Espírito Santo (a presença), mas o havia sido revelado pelo Espírito que não saborearia a morte “antes de ter visto ao Cristo do Senhor” .

Pelo contrário, aqueles que só entendem e purificam o cálice por fora (aos que o logion e o evangelho identifica como “fariseus”), se comportam como um cachorro deitado na manjedoura. Não comem o alimento verdadeiro que a presença do Espírito os designou — a semente de Deus em si mesmos — pois essa é comida de despertos e não de adormecidos. Nem deixam que aqueles que em seu dia pudessem descobrir a presença, se alimentem dela, pois interpõem seu corpo de adormecidos.

Estes “fariseus” — pois os há de todos os séculos — negam que dentro do cálice haja outra coisa que ar; se afanam em negar a luz na qual não creem e pensam sem humildade, que a luz que não veem, é porque não existe.

Estes “fariseus” ignoram que esse sopro que não se sabe de onde vem nem a onde vai, é a presença, obscurecida à princípio mas forte depois, do Espírito do que há de nascer quando se aprende a ouvir sua voz.

Leloup

- O fariseu é um homem infeliz.

Crê “saber”, mas nem conhece a si mesmo.

- O que ensina só pode distrair do essencial e ocupar, no espírito daqueles que o escutam, o lugar do Vivente.

- Não se conhece e impede aos outros de se conhecerem a eles mesmos.

Gillabert

- Variante: “Parecem a um cão deitado na manjedoura dos bois…”

- Tem seu paralelo no Logion 39

- Nos dois casos, os interessados se privam e privam os outros do conhecimento deles mesmos.

A obstrução que Jesus assinala vem dos fariseus e dos escribas no primeiro logion, e aqui, dos fariseus.

- Trata-se de uma maneira realista e figurada de caracterizar o comportamento psíquico.

- Se sou psíquico, e só sou isto, me assemelho a um cão deitado na manjedoura dos bois; ele nem come nem deixa os bois comerem.

Não emprego minhas forças a me orientar para a gnose, mas impeço por minha atitude àqueles que esta abordagem poderia interessar. Me privo das chaves da gnose e as escondo aos outros, me recuso à Vida e impeço outros de saboreá-la.

Puech

Muitos ditos aparentemente nada têm de esotérico, seja neles mesmos, seja em razão das circunstâncias onde devem ter sido pronunciados: uns muito simples, muito claros, muito concretos, até mesmo populares como este logion.

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