SUPERAÇÃO DESEJO
Raimon Panikkar — A FASCINAÇÃO DO BUDISMO
Excertos de sua apresentação ao livro O DESPERTAR DO BUDA
SUPERAÇÃO DO DESEJO
A tentação dos meios
Desde que o menino tinha sete anos, seu Pai se dera conta de que o Filho, nascido com todos os augúrios para ser um grande rei e transformar o mundo dos pequenos reinos do norte da índia, não tinha vontade de utilizar os poderes e os meios de que dispunha. O pai lhe construiu um palácio de primavera e nele pôs tudo aquilo que um jovem adolescente podia desejar; no de inverno, deu-lhe todo o tipo de aulas que os pânditas de seu reino lhe puderam ministrar; e no de outono, proporcionou-lhe a experiência dos velhos anciãos de seu clã. Mas parecia que nada o satisfazia. Tinha nas mãos o poder de utilizar todos os meios possíveis de que um reino dispõe. Podia mudar o mundo se assim o desejasse, mudar as coisas se assim o quisesse. Porém, ao que tudo indica, desprezou todas as portas que o poder lhe abria para fazer o bem. E, como mais tarde ele próprio dará a entender, Renuncia a utilizar o poder; e assim como mais tarde um outro jovem, mais ou menos de sua idade, também deixará que as pedras sejam pedras, não querendo convertê-las em pão: respeitando as coisas e não fazendo uso de seu poder, sequer para fazer desordenadamente o bem. E esse jovem de 29 anos, que já havia visto (ao que tudo indica) um velho, um doente e um pássaro com uma minhoca no bico que não conseguia soltar-se, e que mais tarde se deparou com um morto e com um enterro (apesar de seu pai, que tanto o amava, querer evitar-lhe as dores da vida), foi-se sem saber para onde ia, rompeu laços, tomou uma decisão, abandonou tudo, desprezou o poder, as oportunidades, e superou o que mais tarde, ele próprio, estando debaixo de uma árvore, viu: a tentação dos meios. Abusar do poder para fazer coisas boas. - EXTREMOS - FAZER BEM
