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VONTADE DE DEUS (COP)

*Henri Crouzel – Orígenes e Plotino (COP)*

Capítulo I: Pai em Orígenes e Uno em Plotino

Fala-se muitas vezes da vontade de Deus no Peri Archon e no Contra Celso, e essa vontade é considerada frequentemente como uma realidade objetiva, sem que seja examinado como compreender essa faculdade de querer. Ela é atribuída igualmente ao Filho e ao Espírito. Ela se exerce na geração do Filho, na criação realizada por bondade, no governo do mundo a fim de prover ao bem dos homens, nas funções e nos nomes atribuídos aos anjos, na profecia e no Apostolado dos discípulos: igualmente em numerosas citações de textos neotestamentários que falam da vontade de Deus ou de Cristo.

A petição do Pai-Nosso - “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu” - poderia ter sido para Orígenes, no Tratado da Oração, ocasião de se exprimir sobre o modo de conceber a vontade de Deus. Mas a passagem que lhe é consagrada tem uma orientação mais pastoral e alegórica que metafísica, e as poucas outras citações de Mt 6,10 não nos ensinam nada sobre esse ponto.

Para tentar adivinhar o que Orígenes pensa a esse respeito, é preciso reportar-se a seu tratamento dos antropomorfismos divinos. Eles exprimem realidades misteriosas, que não devem ser compreendidas humano modo: é preciso portanto abstrair de todas as limitações que comporta a condição humana com sua corporeidade, sua fragilidade, sua mobilidade. A vontade de Deus, tantas vezes afirmada pela Escritura e pelo próprio Orígenes, corresponde portanto a uma realidade. Mas não se deveria concluir do fato de que a geração do Filho é um ato da vontade divina que o Filho poderia não ter sido, pois seria então JULGAR a vontade divina sobre o modelo da vontade do homem. Para Orígenes como para Plotino, a vontade de Deus se identifica com seu ato, aqui a geração do Filho. Parece porém que a vontade de Deus tenha para Orígenes um conteúdo mais firme que para Plotino, pois a noção da personalidade divina é nele bem mais precisa. Não se trata apenas do que se exprime na criação e no funcionamento do mundo, mas também numa Providência em que Deus, voltado para sua criatura, se ocupa realmente dela, com o Filho e o Espírito. Por outro lado, a vontade de Deus é apresentada ao livre arbítrio do homem como um dever moral a cumprir. Tudo isso se encontrará quando tratarmos do homem.

Nada se faz sem a Providência de Deus, mas muitas coisas se fazem sem sua vontade. Essa é a consequência do livre arbítrio com que Deus dotou o homem. Ele fez o homem livre para que pudesse aderir por si mesmo à vontade de Deus, mas o homem pode também não lhe obedecer: o pecado é a consequência lamentável do livre arbítrio. E mesmo nesse caso Deus respeita o livre arbítrio do homem: isso não é sem relação com a polêmica frequente de Orígenes contra a concepção que os montanistas faziam da inspiração profética. Orígenes não aceita que nesse caso o Espírito Divino expulse a inteligência do profeta para tomar seu lugar e servir-se dele como de um simples instrumento. Deus não manipula o homem, mas respeita a inteligência e a liberdade daquele que criou inteligente e livre.

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