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GONDAL (MGTP) – FIGURAS ESCRITURÁRIAS DA PURIFICAÇÃO (MADAME GUYON)

- Apresentação de Marie-Louise Gondal do *Figuras escriturárias da purificação* de Madame de Guyon (MGTP)*

Por fim, pareceu útil apresentar também o aspecto escriturístico da meditação de Madame de Guyon sobre o purgatório. Seu tratado, que certamente brota do aprofundamento de sua consciência e de suas próprias provações, nasce igualmente das Sagradas Escrituras que ela frequentara longamente.

É impressionante notar que, enquanto alguns teólogos parecem ter dificuldade em encontrar na Bíblia passagens que fundamentem a noção de purgatório, Madame de Guyon descobre em numerosos trechos um chamado não velado à purificação, tanto no além como no aquém. Não pretendemos aqui compilar um levantamento exaustivo. Uma (muito rápida) sondagem em suas monumentais *Explications de la sainte Écriture* (também publicadas por P. Poiret entre 1713-1715, 8 volumes para o Novo Testamento e 12 para o Antigo) nos permitiu identificar cerca de quarenta desses lugares bíblicos, distribuídos entre o Antigo e o Novo Testamento.

Evidentemente, são as imagens de “fogo”, de “sal”, de “deserto”, de “rio” ou de “abismo” a atravessar que Madame de Guyon comenta no sentido da purificação espiritual necessária para a união com Deus. Tais são as passagens de Êxodo 12,11; 33,20; Números 14,32; Deuteronômio 5,26; 6,5; II Samuel 6,24; 2,9; Neemias 2,14; 7,15. E, claro, o Salmo 67,10 ou Provérbios 17,3-8, que evocam a purificação da prata pelo fogo.

Também são destacados os trechos dos Evangelhos relacionados ao fogo — aquele da eternidade sem retorno (Mateus 23,41) ou aquele que, como o sal, purifica para vivificar (Marcos 9,48). Outros textos, menos imagéticos mas mais carregados de testemunho, chamam a atenção de Madame de Guyon quanto à purificação, como os capítulos 11, 12 e 13 de João, que relatam a ressurreição de Lázaro, a lavagem dos pés dos discípulos ou a agonia de Jesus. Aqui, o purgatório assume as dimensões do combate central da salvação: o da vida contra a morte, tanto corporal quanto espiritual, o da sabedoria e da glória divina contra a dissociação do pecado e da noite.

Por fim, as cartas do apóstolo Paulo oferecem à comentarista as luzes que lhe permitem associar ao tema da purificação o da Justiça (por exemplo: Romanos 3,12-21; 4,6-8 etc.). Vale notar que, no autógrafo do “Purgatório”, é a palavra “Justiça”, e apenas ela, que aparece com maiúscula: para Madame de Guyon, a grandeza está no atributo da Divindade, não na purificação, que designa apenas sua operação no ser humano.

Diante da Riqueza da temática do “purgatório” nos comentários bíblicos de Madame de Guyon, era necessário incluir neste pequeno dossiê alguns textos representativos. É ali, em primeiro lugar, que ela encontrou alimento e luz para sua busca de “pureza”, sua aspiração à “justiça”, para além das representações e práticas associadas ao “purgatório” em sua época. As poucas páginas aqui selecionadas, entre dezenas de outras, permitem acompanhar o nascimento de uma linguagem a partir das imagens e narrativas bíblicas. São também um exemplo da liberdade com que Madame de Guyon abre caminhos e tece ligações entre temas espirituais aparentemente distantes, como purificação e união, vida e Verbo, atividade e passividade, desejo e sacramento, universalidade do espiritual e o lugar ao mesmo tempo particular e eminente da figura de Cristo — que, para ela, domina tudo e realiza toda purificação verdadeira.

- “Irmãos humanos que depois de nós vivereis, Não endureçais vossos corações contra nós”*

— suplicavam os enforcados na “balada” de François Villon. Não seria essa, mudando talvez uma palavra para chegar ao âmago do apelo, a mesma súplica que se pode ouvir nos textos por vezes vertiginosos de Madame de Guyon: *“Não endureçais vossos corações contra Deus”*?

O chamado quietismo de Madame de Guyon, sua “passividade ativa”, ainda que por vezes pareçam estranhos, não dizem outra coisa. E se essa linguagem às vezes assume um caráter enigmático, ou se soa mais como uma poética de acentos barrocos do que como uma meditação clássica, não seria por causa da estranheza das provações que ela mesma atravessou? Provações do espírito antes de serem morais, eclesiásticas ou políticas. Provações no cadinho das quais nascia, sem dúvida, uma modernidade que recusava ser totalmente mercantil [].

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