NOTHOMB SEGUNDO RELATO 2,9
Paul Nothomb — O SEGUNDO RELATO
Gen 2,9 E Deus fez brotar, destacados do solo (Adama) todas as árvores agradáveis a ver e boas a comer.
Enquanto no versículo precedente o texto insistia sobre o advérbio de lugar (repetido graficamente no Verbo «pôr» que o precede) ele não precisa aqui onde Deus fez brotar estas árvores, a menos que a expressão «fora da adama» não baste para designar o jardim.
Mas a Árvore de Vida — a imortalidade — (estava) no interior do jardim, assim como a Árvore do Conhecimento total — a Realidade.
Não é uma descrição do jardim, que não pode ser representado. Pelo menos plasticamente de maneira «realista» como a Iconografia religiosa e profana se empenhou em fazer no curso dos tempos. As «árvores» de que fala aqui o relato se opõem às «sarças» do prólogo como ao «espinhos» e às silvas do epílogo, e em seguida se opõem entre eles. Estes são os elementos de um discurso ao mesmo tempo alegórico e pedagógico. A árvore é o símbolo universal da Vida em todo seu vigor, em toda sua Riqueza. Não há senão árvores no jardim, mas umas são anônimas e qualificadas de «agradáveis a ver» e «boas a comer» e Deus as faz brotar, o que implica seu crescimento, sua reprodução e sua renovação, são os bens espirituais e materiais sem cessar variados postos à disposição do Homem. E não se deve confundi-las com as outras «árvores» que portam nomes elaborados, «nomes de código» e que Deus não fez crescer, mas plantou-as com o jardim da qual constituem de certo modo as dimensões, as características, as peculiaridade que o distinguem tanto do Tohu Bohu que o precedeu quanto do Exílio da «condição humana» que lhe sucede.
Que há no jardim duas espécies de árvores — de significações muito diferentes — e que importa não confundi-las, a sequência do relato o confirmará, mas isso se mostra desde já da análise sintática do versículo 2,9. E se compõe de duas sequências que levo em conta nas próximas análises em separar, mas que Segond traduz como se elas só formassem um unidade: «O Eterno Deus fez brotar do solo árvores de toda espécie, agradáveis a ver e boas a comer, e a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal». O leitor distraído pode pensar que se trata de uma enumeração das árvores que Deus fez brotar, ao mesmo tempo ou quase, em todo caso no mesmo plano de importância para guarnecer o jardim onde, curiosamente são citadas em último e parecem adicionadas àquelas citadas em primeiro — como se a princípio tivessem sido esquecidas — as duas portam um nome, e vão desempenhar um papel no drama que a narração dispõe. Pois este relato, bem entendido, é retrospectivo e redigido para nos instruir e nos fazer compreender, na Medida do possível, em que consistiu este drama e como ele se desdobrou, precisamente ao redor da árvore que fecha a enumeração, de maneira, parece, bastante acessória. Mas as duas árvores principais, que a tradução de Segond apresenta como complementos suplementares do verbo «fez brotar» são em hebreu os sujeitos de uma frase nominal independente. Desprovida de verbo, ela não deixa de ter um predicado «no interior do jardim» (melhor que «no meio do jardim» de Segond), ligado a seus dois sujeitos por uma cópula, subentendida em hebreu, mas posta na tradução por «está», que traduzo por «estava» para respeitar a «concordância dos tempos» do relato. Por conseguinte o sentido é a princípio intemporal. Se exprime uma concomitância não é com o evento «fez brotar» mas com o evento precedente «plantou». Com efeito a frase nominal indica que as duas árvores em questão se encontram circunstancialmente no jardim, logo depois que Deus o plantou para o Homem. Não são ornamentos nem agrados do jardim, mas o constituem, o definem, o situam… E se são citadas por último no texto, meu entendimento para esta razão é, para fazer a ligação com os quatro versículos aparentemente aberrantes que seguem, e que «situam» eles também o jardim.
LEO SCHAYA — CRIAÇÃO EM DEUS
E YHWH Elohim fez brotar da terra (Adamah) árvores de toda espécie, agradáveis à vista e (cujos frutos eram) bons a comer, (Ele fez sair de sua Imanência, depois do homem, outras manifestações «axiais» refletindo o Eixo Divino-humano; suas irradiações se pareciam a «coroas» luminosas ao redor de «troncos de árvores» e produziam «frutos» espirituais), a árvore de vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal (situada, ela também, «no meio do jardim», mas não no «centro do meio», como a árvore de vida. Em realidade, a árvore do conhecimento do bem e do mal saia da árvore de vida mesma, como uma «sombra»; ou ainda, parecia uma planta parasita cujas ramas se estendiam «à direita» — do «lado do bem» — e «à esquerda» — do «lado do mal» — em cercando o «hóspede» divino. As duas árvores representavam correspondências cósmicas das duas naturezas, divina — ou «una» — e humana — ou «dual», do homem. Esta última tirava toda sua «seiva», seu alimento espiritual e material, da primeira; e esta seiva era a «água da vida» — como aquela do «rio do Éden» —, a seiva da «árvore de vida», a vida mesma de todas as «árvores» e todas as criaturas paradisíacas).
