Se é normal que o copista comece seu trabalho com uma piedosa invocação, esta não é de uma formulação corrente. É óbvio que Jesus seja invocado primeiro, nem que seja porque a imitação da vida de Cristo é a condição de uma vida perfeita. Uma vez que a Virgem é a padroeira da Ordem Teutônica, é também óbvio que ela seja invocada. Mas, depois de Jesus e sua Mãe, não é José que é invocado, mas João: será porque João, o discípulo preferido, é por excelência um “amigo de Deus”? Será porque a veneração de José era pouco difundida na Idade Média, com Gregório XVI só estendendo a festa a toda a Igreja em 1621?
O autor da T G é, portanto, um Amigo de Deus. Leigos e religiosos, de diversas classes sociais, os Amigos de Deus não formavam uma congregação organizada. Com uma piedade pessoal intensa, que não era alheia a um certo cansaço da escolástica, eles pretendiam reagir contra a mediocridade da vida espiritual entre os fiéis e no clero, bem como contra as desordens das quais a Igreja não estava isenta.
Permanecendo na Igreja e no mundo, eles tentavam uma regeneração do corpo cristão: Cristo não havia pedido que seus discípulos e amigos se retirassem do mundo (João 15, 14; 17, 15) e, longe de serem favoráveis ao monaquismo, eles estimavam que era melhor socorrer os pobres do que construir conventos.
Os Amigos de Deus tiveram uma comunidade importante em Estrasburgo na época em que Tauler ali pregou (1347). Ela recebia boa parte de sua nutrição espiritual de obras de um misterioso Amigo de Deus de POberland, do País-d'En-haut. Esse personagem fictício, vivendo em uma região elevada da geografia, mas sobretudo da alma, era provavelmente, de fato, o rico cambista de Estrasburgo Rulman Merswin (1307-1382). Após uma crise religiosa, ele havia renunciado aos negócios, um pouco como Pedro Valdo dois séculos antes, para dedicar sua existência às coisas de Deus. Ele teve Tauler como diretor e, inversamente, teria sido a origem de uma segunda conversão do dominicano, se, ao menos, se der alguma credibilidade ao que relata O livro do mestre, atribuível em parte a Merswin, onde um eremita, Amigo de Deus, converte um mestre em teologia sagrada a uma fé mais interior e mais viva. No entanto, a crítica estabeleceu que, nesse texto, as intenções de edificação superam em muito a fidelidade à realidade e que se trata, em suma, de um romance piedoso.
É importante assinalar que o autor ou os autores de outros dois textos muito difundidos entre os Amigos de Deus, o Livro das nove rochas e o Livro dos cinco homens, estipulam que seus leitores não devem procurar conhecer por intermédio de quem Deus fez redigir essas obras: humildade? medo de dificuldades com o magistério eclesiástico? Amigo de Deus, o autor da T G permanece assim desconhecido, e o redator desta nota biográfica preliminar respeita também essa vontade de anonimato, como observa também Lutero em sua edição de 1518: conta o que Deus faz dizer e não por quem ele o faz dizer.