THEOLOGIA GERMANICA (ATG) – HÁ ALGO QUE SE OPONHA A DEUS?

*Como nada além da própria vontade se opõe a Deus; quem busca o que é melhor para si, como algo que lhe pertence, não o encontra; e como o homem não sabe nem pode fazer nada de bom por si mesmo.*

Capítulo 44

Se perguntar se há algo que se oponha a Deus e ao verdadeiro Bem, a resposta é: não. Nada também existe sem Deus, exceto apenas querer de modo diferente do que quer a vontade eterna, isto é, contra a vontade eterna. Ora, a vontade eterna quer que nada seja desejado e amado além do Bem eterno e, se for diferente, isso se opõe a ela e, nesse sentido, é verdade que quem está sem Deus está contra Deus. Mas, na verdade, nada está contra Deus ou contra o verdadeiro Bem. Deve-se entender isso como se Deus dissesse: “Quem quer sem mim ou não quer como eu ou quer diferente de mim, quer contra mim, pois minha vontade é que ninguém deva querer diferente de mim; não deve haver vontade sem mim e sem minha vontade, assim como, sem mim, não há ser, nem vida, nem isto ou aquilo, não deveria haver vontade sem mim e sem minha vontade.”

E assim como todos os seres são, na verdade, um no ser perfeito por sua essência, como tudo o que é bom é um no Uno e como nada pode existir sem o Uno, assim também todas as vontades devem ser una na vontade perfeita una, e nenhuma vontade deve existir sem essa vontade una. Quando é diferente, é mau e oposto a Deus e à sua vontade, sendo, portanto, pecado. Por isso, toda vontade sem a vontade de Deus — isto é, toda vontade própria — é pecado, assim como tudo o que é feito por vontade própria.

Enquanto o homem busca sua vontade própria e o que é melhor para ele como se lhe pertencesse, e o busca para si mesmo, nunca o encontra, pois, enquanto assim age, o homem busca o que, para si mesmo, é o melhor: como então encontraria o que é verdadeiramente o melhor? Pois, enquanto age assim, é a si mesmo que esse homem busca; ele imagina que é ele próprio o que é melhor e, como não é o que é melhor, não busca o que é melhor enquanto busca a si mesmo. Mas se um homem busca, ama e considera o Bem como Bem, pelo Bem, sem outra intenção senão puramente por amor ao Bem — não como vindo de si, como um “eu”, um “meu”, um “para mim” e outras coisas semelhantes —, então ele encontrará, pois busca como convém. Se for diferente, age de modo errado. É assim que, na verdade, o verdadeiro Bem perfeito se busca, se considera e se ama, e é por isso que se encontra.

É grande loucura para um homem ou criatura imaginar que sabe ou pode algo por si mesmo e, especialmente, imaginar que sabe ou pode algo de bom que lhe seja um meio de merecer grandemente de Deus. Com isso, refletindo bem, ofende-se a Deus. Mas o verdadeiro Bem perfeito passa por isso no caso de um homem simples e limitado que não sabe nada melhor; concede-lhe tanta prosperidade quanto lhe possa acontecer e tanto bem quanto possa receber. Deus o presenteia com isso muito voluntariamente. Mas, como dito anteriormente, nada se encontra ou recebe enquanto for assim sem mudança, pois a egoidade e a ipseidade devem desaparecer: caso contrário, nada se encontra ou recebe.