THEOLOGIA GERMANICA (ATG) – DOS DOIS OLHOS DA ALMA

*De dois olhos da alma com os quais o homem olha para a eternidade e para o tempo e como um é um obstáculo para a ação do outro.*

Capítulo 7

Deve-se prestar atenção ao que se lê e diz que a alma de Cristo tinha dois olhos, um olho direito e um olho esquerdo. No princípio, quando foi criada, ela virava o olho direito para a eternidade e a Divindade e permanecia no gozo perfeito e na contemplação perfeita do ser Divino e da perfeição eterna; ela estava imóvel e permanecia sem ser agitada nem contrariada por todos os acidentes, todas as penas e sofrimentos, todos os martírios e tormentos que jamais se produziam no homem exterior. Mas com o olho esquerdo, ela olhava para a criatura, conhecia tudo ali, distinguia nas criaturas o que era melhor ou não, mais nobre ou não, e o homem exterior de Cristo se regulava por isso. Assim, o homem interior de Cristo estava, pelo olho direito da alma, no gozo perfeito da natureza divina, nas delícias e na alegria perfeitas e na paz eterna. Mas o homem exterior e o olho esquerdo da alma de Cristo estavam com ele nos sofrimentos perfeitos, em todas as aflições, misérias e penas. Isso se fazia de tal maneira que o ser interior e o olho direito permaneciam sem ser afetados, nem contrariados, nem agitados por todas as penas, sofrimentos, dores e todos os martírios que se produziam no homem exterior*. Diz-se que, quando, segundo o homem exterior, Cristo era flagelado na coluna e pendia da santa cruz, sua alma ou o homem interior estava, segundo o olho direito, em um gozo da alegria e das delícias divinas tão perfeito quanto o de depois da Ascensão ou o de agora. Da mesma forma, o homem exterior ou a alma segundo o olho esquerdo nunca foram contrariados, perturbados ou afligidos pelo olho interior em suas ações e em tudo o que pertence à sua exterioridade: nenhum de seus olhos se preocupava com o outro.

Ora, a alma criada do homem tem, ela também, dois olhos. Um é a possibilidade de olhar para a eternidade, o outro de olhar para o tempo e a criatura, de discernir as diferenças ali, como foi dito anteriormente, de dar ao corpo a vida e o necessário, de dirigi-lo e de governá-lo segundo o que é o melhor de tudo. Mas esses dois olhos da alma do homem não podem fazer sua obra juntos ao mesmo tempo; se a alma deve olhar com o olho direito para a eternidade, é preciso que o olho esquerdo se abstenha de toda atividade, renuncie a ela e se comporte como se estivesse morto; se o olho esquerdo deve exercer sua atividade para o que é exterior, ou seja, se deve lidar com o tempo e a criatura, é preciso que o olho direito seja impedido de exercer sua atividade, ou seja, a contemplação. Assim, quem quer um deve abandonar o outro, pois ninguém pode servir a dois senhores.