FABRE D'OLIVET (TANNER) – ADVERTÊNCIA AOS CATÓLICOS SOBRE O GÊNESIS

ATFO

Se, entre o sacerdócio católico, houvesse homens suficientemente judiciosos para considerar, nessa obra puramente literária, o que ela poderia ter de útil à moral e à religião em geral, e que, prontos a receber a verdade se lhes fosse demonstrada, esperassem apenas uma Autoridade legal que os determinasse a examinar; poderia satisfazê-los: pois não é por falta de armas que evito as controvérsias, mas por falta de gosto. Eis duas autoridades que não recusarão. A primeira é de São Paulo, o mais sábio dos apóstolos: ela prova que, já em seu tempo, era uma opinião recebida que os Judeus não entendiam mais o texto do *Sépher*, não tendo a força de levantar o véu que Moisés estendera sobre sua doutrina.

A segunda é de Santo Agostinho, o mais instruído dos Padres da Igreja. Serve de prova a toda minha tradução, dando aos dois primeiros versículos do *Beraeshit* exatamente o mesmo sentido que eu; sentido totalmente oposto ao da Vulgata, e do qual o resto decorre irrefutavelmente.

*“É Deus”, diz o apóstolo, “que nos tornou capazes de ser os ministros da nova aliança, não da letra, mas do espírito… Assim, cheios de tal esperança, falamos muito abertamente e não fazemos como Moisés, que cobria o rosto com um véu, para que os filhos de Israel não compreendessem o mistério do que é ab-rogado; mas seus pensamentos endureceram-se, pois, até hoje, esse mesmo véu permanece sem ser levantado sobre o texto da antiga aliança, embora ab-rogada em Cristo; e enquanto hoje mesmo lhes leem Moisés, esse véu permanece estendido sobre seu coração”… Epist. Corinth., II, ch. 3.*

Santo Agostinho, examinando a questão da criação, em seu livro sobre o Gênesis, contra os maniqueus, exprime-se assim: “Diz-se: no princípio, Deus fez o céu e a terra; não que isso fosse de fato, mas porque estava em potência de ser; pois está escrito que o céu foi feito depois. É assim que, considerando a SEMENTE de uma árvore, dizemos que ali há raízes, um tronco, ramos, o fruto e as folhas; não que todas essas coisas ali estejam formalmente, mas virtualmente e destinadas a brotar. Do mesmo modo, diz-se: no princípio, Deus fez os céus e a terra; isto é, a semente do céu e da terra; pois a matéria do céu e da terra estava então em um estado de confusão. Ora, como era certo que dessa matéria deviam nascer o céu e a terra, eis por que essa mesma matéria já era potencialmente Chamada céu e terra…” August. L. I, c. 3, num. 11.