Francisco Garcia Bazan — Gnosis Tradução feita da seleção de textos gnósticos do livro do autor O Hino da Pérola
1 Quando era pequenino vivia em meu reino na casa de meu Pai
2 e na opulência e abundância de meus educadores encontrava meu prazer
3 quando mus pais me equiparam e enviaram desde o Oriente, minha pátria
4 Das riquezas de nosso tesouro me prepararam um enxoval pequeno,
5 mas valioso e leve para que eu mesmo o transportasse.
6 Ouro da casa dos deuses, prata dos grandes tesouros,
7 rubis da Índia, ágatas do reino de Kushan.
8 Me cingiram um diamante que pode talhar o ferro.
9 Me retiraram o vestido brilhante que eles amorosamente haviam feito para mim
10 e a toga púrpura que havia sido confeccionada para meu tamanho
11 Fizeram um pacto comigo e escreveram em meu coração, para que não o esquecesse, isto:
12”Se desces ao Egito e te apoderas da pérola única
13 que se encontra no fundo do mar na morada da serpente que faz espuma
14 (então) vestirás de novo o vestido resplandecente e a toga que descansa sobre ele
15 e serás herdeiro de nosso reino com teu irmão, o mais próximo a nosso nível.
16 Abandonei Oriente e desci acompanhado de dois guias
17 pois o caminho era perigoso e difícil e era muito jovem para viajar.
18 Atravessei a região de Messena, o lugar de reunião dos mercadores do Oriente,
19 e alcancei a terra de Babel e penetrei no recinto de Sarbuj.
20 Cheguei ao Egito e meus companheiros me abandonaram.
21 Me dirigi diretamente à serpente e morei próximo de seu albergue
22 esperando que a o sono a tomasse e dormisse e assim poder conseguir a pérola.
23 E quando estava absolutamente só, estrangeiro naquele país estranho,
24 vi a um de minha raça, um homem livre, um oriental,
25 jovem, formoso e favorecido,
26 um filho de nobres, e chegou e se relacionou comigo
27 e o disse meu amigo íntimo, um companheiro a quem confiar meu segredo.
28 O adverti contra os egípcios e contra a sociedade dos impuros.
29 E me vesti com seus disfarces para que não suspeitassem que havia vindo de longe
30 para tirar-lhes a pérola e impedir que excitassem a serpente contra mim.
31 Mas de alguma maneira se deram conta de que eu não era um compatriota;
32 me estenderam uma armadilha e fizeram comer de seus alimentos.
33 Esqueci que era filho de reis e servi a seu rei;
34 esqueci da pérola pela qual meus pais me haviam enviado
35 e por causa da pesadez de seus alimentos caí em um sono profundo.
36 Mas isto que acontecia foi sabido por meus pais e se apiedaram de mim
37 e saiu um decreto de nosso reino, ordenando a todos, vir ante nosso trono,
38 aos reis e príncipes da Partia e a todos os nobres do Oriente.
39 E determinaram sobre mim que não devi permanecer no Egito,
40 e me escreveram uma carta que cada nobre firmou com seu nome:
41 “De teu Pai, o Rei dos reis, e de tua Mãe, a soberana do Oriente,
42 e de teu irmão, nosso mais próximo em nível, para ti, filho nosso, que estais no Egito, Saúdo!
43 Desperta e levanta-te de teu sono, e ouve as palavras de nossa carta.
44 Recorda que és filho de reis! Olha a escravidão em que caístes!
45 Recorda a pérola pela qual fostes enviado ao Egito!
46 Pensa em teu vestido resplandecente e recorda tua toga gloriosa
47 que vestirás e te adornará quando teu nome seja lido no livro dos valentes
48 e que teu irmão, nosso sucessor, será o herdeiro de nosso reino”.
49 E minha carta, era uma carta que o Rei selou com sua mão direita,
50 para preservá-la dos males, dos filhos de Babel e dos demônios selvagens de Sarbuj.
51 Voou como uma águia — a carta —, o rei dos pássaros;
52 voou e desceu sobre mim e chegou a ser toda palavra.
53 A sua voz e alvoroço me despertei e saí de meu sono.
54 A tomei, a beijei, retirei seu selo e a li:
55 e se acordavam com o escrito em meu coração, as palavras escritas na carta.
56 Recordei que era filho de reis, e livre por própria natureza.
57 Recordei a pérola, pela qual havia sido enviado ao Egito,
58 e comecei a encantar à terrível serpente que produz espuma.
59 Comecei a encantá-la e a adormeci depois de pronunciar sobre ela o nome de meu Pai,
60 e o nome de meu irmão e o de minha mãe, a rainha do Oriente;
61 e capturei a pérola e voltei para a casa de meus pais.
62 Retirei o vestido maculado e impuro e o abandonei sobre a areia do país,
63 e tomei o reto caminho em direção à luz de nosso país, o Oriente.
64 E minha carta, a que me despertou, a encontrava diante de mim, durante o caminho,
65 e o mesmo que me havia despertado com sua voz me guiava com sua luz.
66 Pois a (carta) real de seda brilhava diante de mim com sua forma
67 e com sua voz e sua direção
68 me animava e atraía amorosamente.
69 Continuei meu caminho, passei Sarbuj, deixei Babel a meu lado esquerdo.
70 E alcancei a grande Messena, o porto dos mercadores,
71 que está sobre a borda do mar.
72 E meu vestido de luz, que havia abandonado, e a toga pregada junto a ele,
73 das alturas de Hyrcania meus pais os enviaram a mim,
74 por meio de seus tesoureiros, a cuja fidelidade se os havia confiado,
75 e posto que eu não recordava sua dignidade já que em minha infância havia abandonado a casa de meu Pai,
76 de improviso, como os enfrentara, o vestido me pareceu como um espelho de mim mesmo.
77 O vi todo inteiro em mim mesmo, e a mim mesmo inteiro nele,
78 posto que nós eramos dos diferentes e, não obstante, novamente uno em uma única forma.
79 E aos tesoureiros igualmente, os quais trouxeram a mim, os vi em semelhante maneira,
80 já que eles eram dois, embora como um, posto que sobre eles estava gravado um único selo do Rei,
81 o qual me restituía meu tesouro e minha riqueza por meio deles,
82 meu luminoso vestido bordado, que estava ornado com gloriosas cores,
83 com ouro e com berilos, com rubis e ágatas
84 e ágatas de variadas cores, também havia sido confeccionado na mansão do alto
85 e com diamantes, haviam sido floreadas suas costuras.
86 E a imagem do Rei dos reis estava pintada em todo ele,
87 e também com as safiras rutilavam suas cores.
88 E novamente vi que todo ele se agitava pelo movimento de meu conhecimento
89 e como se prepara-se para falar o vi.
90 Ouvi o som do canto que recitava ao descer,
91 dizendo: “Sou o mais dedicado dos servidores que se puseram a serviço de meu Pai,
92 e também percebi em mim que minha estatura crescia conforme a seus trabalhos”.
93 E em seus movimentos reais se estendeu em direção a mim,
94 e das mãos de seus portadores e incitou a tomá-lo.
95 E também meu amor me urgia para que corresse a seu encontro e o tomasse,
96 e assim o recebi e com a beleza de suas cores me adornei.
97 E minha toga de cores brilhantes me envolveu todo inteiro,
98 e me vesti e ascendi em direção à porta da saudação e da homenagem;
99 inclinei a cabeça e rendi homenagem à Majestade de meu Pai que o havia enviado até mim,
100 porque havia cumprido seus mandamentos e ele também havia cumprido sua promessa,
101 e à porta de seus príncipes, me mesclei com seus nobres;
102 pois se regozijou por mim e me recebeu, e fui com ele em seu reino.
103 E com a voz da oração todos seus servos o glorificam.
104 E me prometeu que também até a porta do Rei dos reis iria com ele,
105 e levando meu obséquio e minha pérola aparecia com ele diante de nosso Rei.