DIÁLOGO COM A SAMARITANA

Atos de JesusDIÁLOGO COM A SAMARITANA (Jo IV, 1-42)

Evangelho de Jesus: Jo 4:1-42 ! Mestre Eckhart: SERMÃO XXVI

Joaquim Carreira das Neves: excertos de ESCRITOS DE SÃO JOÃO

Jean-Yves Leloup: ORAÇÃO DA ATENÇÃO À RESPIRAÇÃO Roberto Pla: Evangelho de Tomé - Logion 74

A água à que agora vai referir-se Jesus não é a água estável do poço que a alma samaritana conhece e bebe, senão as águas vivas; estas são o caudal do que se nutre a alma, pois como línguas ígneas do conhecimento procedentes de Deus (Pentecostes), desde todos os veios do mundo, se agregam à alma para enriquecê-la com fluxos de salvação.

Estas são as águas que acalmam a sede de Vida Eterna, essa sede que em definitivo é a única sede verdadeira da alma. Todas as águas desta espécie que a alma recebe, se convertem nela em fonte própria que emana para fazer possível as Bodas sagradas com o espírito. A isto se refere, sem dúvida, a inopinada alusão de Jesus aos “maridos” da alma samaritana. Tais “maridos” são denunciados por Jesus como desposados (psíquicos) inadequados, posto que o único matrimônio reputado como verdadeiro é o que se celebra com o esposo pneumático, e que nele tende a desembocar, quando transcorre com lucidez, a vida inteira da alma.

A boda interior, “oculta”, ou melhor o Caminho até esta boda de união sagrada, implica na exigência de uma adoração permanente, que só pode ser praticada “em espírito e verdade”. Estes são adoradores segundo a vertente oculta de Cristo; sacerdotes que oficiam prosternados diante do “nascido do alto” (Nascer do Alto), que neles está. Em verdade, a presença deste nascido do Espírito é como o vento cuja voz é ouvida sem saber o como e o porque, mas os adoradores verdadeiros, não necessitam nenhum outro templo, ou monte da terra, para prosternar-se e adorar com plenitude.

A alma samaritana, sem “maridos”, diz então: “Sei que vai vir o Messias, o Chamado Cristo”. E Jesus a contesta: “Eu Sou. O que te está falando”.

Segundo a vertente “oculta” é como se tivesse dito: O Cristo, em espírito e verdade, está aqui, presente diante de teus olhos. Quando a sua “vinda” ele vem sempre se o vês e sabes entender que ele é o que ti olha. Ele é o Vivente que te vê, desde o fundo insondável de ti mesmo. Quando tua alma se faça uma só carne com ele, já não habitareis nas imediações do poço, senão “no poço”.

Hás de saber que tu é, em uma só e única coisa, o poço, o Vivente que te vê, e a imagem transitória, mortal, que olha e busca na superfície do poço. É esta imagem que convém que seja esquecida.

Antonio Orbe: AS TENTAÇÕES DE JESUS