Logia Jesus — Curar no Sábado (Lc XIV, 1-6)
Aconteceu num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos Fariseus para comer pão, eles o estavam observando. E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico. E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado? Eles, porém, calaram-se. E, tomando-o, o curou e despediu. E disse-lhes: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo? E nada lhe podiam replicar sobre isto. (Lc 14:1-6) —
Michel Henry: PALAVRAS DO Cristo Tantas palavras do Cristo se inscrevem, parece, em um “sistema do humano” onde tudo se refere ao homem. É o caso principalmente das proposições muito duras pelas quais o Cristo recusa a subordinação deste sistema a uma rede de leis às quais o homem deveria conformar sua ação. A reviravolta de uma hierarquia que põe a lei acima do homem é ainda mais impressionante na Medida que a lei em questão é a lei religiosa. Aparece em sua radicalidade quando do conflito aberto com os fariseus, citada acima: “É permitido, sim ou não, fazer uma cura no dia do sábado?” O que se trata de curar sendo a vida, o objeto da reviravolta se descobre em toda clareza: o que é mais que a Lei é precisamente a vida. Ora esta subordinação da Lei à vida não se dá somente no caso excepcional de uma doença, ela vale por toda parte na existência cotidiana. “Se um de vós tem seu Filho ou um boi que cai no poço, não vai retirá-lo imediatamente, mesmo no dia do sábado?” Diante deste acontecimento nu da vida sob suas formas mais banais, as prescrições ideais da Lei perdem todo o crédito, eis uma afirmação ainda mais significativa e desagradável na medida que se dirige àqueles que têm a guarda desta Lei, “aos doutores da Lei e aos fariseus: eles foram incapazes de encontrar uma resposta”.