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O fenômeno do amor é uma espécie de fome e, como toda fome, tende a se satisfazer, realizando-se na extinção. Ele se diferencia de outros tipos de fome por seu caráter total e, principalmente, por existir apenas por um movimento de exteriorização, comportando, invariavelmente, uma “necessidade de sacrifício”. Por isso, o objeto do desejo só pode ser assimilado como resultado da “eliminação” prévia, pelo sujeito, de sua própria Riqueza. Esse desejo de renúncia está presente em toda forma intensa de amor, precisamente por seu caráter total, abrangendo todas as riquezas pessoais que o sujeito amante considera suas. Além disso, o caráter total do amor é independente do caráter particular do objeto para o qual ele é direcionado.
Esta é uma observação banal, feita inúmeras vezes, e que se aplica tanto ao amor especificamente religioso quanto ao amor físico ou a todas as formas de apego afetivo a coletividades humanas (nação, pátria, família, etc.). O que nos interessa é notar uma certa equivocidade contida no próprio fenômeno, particularmente visível quando entra em jogo o amor pelo Ser absoluto — seja o Deus pessoal ou a natureza espinoziana.
No ato de amor, expressa-se a separação vivida como sofrimento. A natureza integral do amor faz com que a separação também seja sentida como um fenômeno integral, ou seja, a separação se identifica com a própria existência individual. Por isso, se o amor contém esse desejo impaciente de se unir completamente ao seu sujeito, ele também contém a nostalgia do aniquilamento, que se renova constantemente em todo lirismo místico e é seu tema principal. Assim, o amor, naturalmente, quer que se viva a própria existência separada como fonte de sofrimento e, portanto, como um mal experimentado.
Ao se realizar pela negação da personalidade, o amor místico é de certa forma forçado a ter uma visão dualista do mundo. Nela, toda diferenciação e multiplicidade, em geral tudo o que leva a marca da separação, é corrompido pelo sofrimento e pelo mal, ou é visto como uma pseudorealidade, um mundo ilusório, enquanto a unidade total realiza em si todo o bem possível. Esse sentimento do “não-natural da natureza”, a diferenciação vivida como alienação e enfermidade, encontramos não apenas nos místicos cristãos, mas também em panteístas-naturalistas como Giordano Bruno ou Spinoza. A realização do amor, que significa a mesma coisa que a extinção benevolente do Ser separado, compreendido como fonte do mal, impõe, portanto, uma óptica maniqueísta, onde o *principium individuationis* (a matéria, mas não necessariamente só a matéria) representa o lugar da queda, e é simplesmente negado no desejo de amor.