PLARD (HPAS) – ANGELUS SILESIUS, CO-CRIAÇÃO DEUS E MUNDO

HPAS

Deus se cria ao mesmo tempo que o mundo, ou seja, o Verbo: esta é uma das ideias fundamentais de Angelus Silesius. Sendo em si mesmo pura “Deidade”, sem determinações, ele só se torna “Deus” pessoal ao se desdobrar em conhecedor e conhecido, criando assim em si o Verbo. Angelus Silesius leva esta doutrina ao extremo e afirma que Deus cria o mundo para tomar conhecimento de si mesmo, o que faz do devir eterno de Deus, do homem e do mundo, um vasto processo interior à consciência divina. Esta é uma questão delicada, dependendo de um conhecimento de Deus que se atinge apenas ao termo da perfeição mística, e que examinaremos em seu devido lugar. Que nos baste aqui saber que este desdobramento de Deus em Pai e Filho — o Pai conhecedor, o Filho objeto de conhecimento — contém implicitamente em si a existência de todas as criaturas. Enquanto conhecedor, ele permanece em si mesmo; enquanto conhecido, ele “flui” na criatura, sendo o Verbo Divino, em quem todas as criaturas têm sua essência; assim se fundamenta o duplo caráter de Deus, sua transcendência ao mundo e sua imanência às essências criadas “Deus, o Um, está em toda parte nas coisas” (V, 3). Cf. também V, 2, 4., portanto às coisas II, 132. É da “emanação” de Deus nas criaturas que se trata aqui. Cf. V, 261.. Assim se realiza a passagem do Um ao Múltiplo, pelo termo médio da Dualidade (*Anderheit*) que é igualmente o estágio em que o homem deve reduzir o múltiplo do mundo antes de reduzi-lo ao Um de Deus, o estágio do “tu e eu” que precede o engolfamento no Um sem distinção de Deus e do Homem O esquema da “remanação” em Deus é multiplicidade, dualidade, unidade. Cf. IV, 224, 181.; e este Outro que é o Verbo contém em si as Essências, é uma unidade das substâncias do mundo, em conformidade com a interpretação medieval do logos joanino (João, I, 3, 4). Trata-se de um ato acima do tempo, de um processo eterno, e como este processo cria o mundo, o mundo só pode ser coeterno a Deus.