PLARD (HPAS) – ANGELUS SILESIUS, ANOS DE APRENDIZADO

HPAS

Um mês antes da morte de sua mãe, ele entrava no Elisabethanum, um ginásio frequentado pelos filhos de famílias patrícias. Foi uma criança séria, apaixonada pelos estudos, logo hábil em manejar o alexandrino alemão, com essa paixão pela amizade que acompanharia e iluminaria toda a sua existência. Sua primeira paixão foi a renovação da poesia alemã, ideal dos círculos opitzianos, encarnado em seu professor e amigo Christoph Köler. Ele vive como todos os estudantes alemães da época, desempenhando seu papel em representações escolares, compondo, para celebrar Köler ou lamentar um amigo, versos hiperbólicos, na moda da época, onde se expõem ingenuamente sua maestria formal da versificação opitziana e sua erudição clássica. Nada anuncia ainda qualquer perturbação religiosa. Ele é apenas uma criança muito talentosa, de espírito flexível, “*ad summa quaeque natus*”, segundo a fórmula de Christoph Köler, mas ainda totalmente intelectual. Mas ele já é apelidado de “Angelus”, sem dúvida por seus colegas; ele já tem um distanciamento do mundo, uma tristeza que se explica pela morte de seus pais e pela maturidade precoce de sua inteligência. Quando começa em Estrasburgo, em 1643, o ciclo de seus anos de universidade, é uma natureza delicada, pronta para sofrer e se entusiasmar.

Muito rapidamente, ele se liberta das influências que o haviam afetado anteriormente, escolhe seu caminho, deixa Estrasburgo, onde Köler queria direcioná-lo para o estudo das ciências políticas, mas onde a medicina era mal ensinada, e entra na Universidade de Leiden em 1644. Ele seguia assim o costume dos estudantes de seu país. Antes e depois de Scheffler, muitos silesianos foram atraídos pela grande universidade holandesa, e um deles nos deixou em sua autobiografia uma viva imagem da cidade, com suas muitas igrejas, seus canais de onde sobem os nevoeiros de outono, e a paisagem holandesa ao redor; e da vida universitária, animada pelas rivalidades entre professores — o aristotélico Stuart contra Heereboord, impetuoso cartesiano — e, menos intelectuais, as brigas entre os alunos. Foi lá que Scheffler se iniciou em uma especulação filosófica que deveria marcar o *Peregrino Querubínico*. Ele tem então vinte anos, é apaixonadamente intelectual, e encontra em Leiden mestres ilustres, uma biblioteca universitária rica e completa, cursos capazes de satisfazer sua avidez de saber. Mas ainda se trata apenas de “*libido sciendi*”? É, neste momento, segundo seu próprio testemunho, que se desperta em Scheffler a inquietante chama religiosa de toda a sua existência.

A Holanda era o país das Seitas e da liberdade intelectual; é para lá que Frankenberg vai para editar Böhme. Scheffler certamente conheceu a seita dos Menonitas, anabatistas pacificados, que se reuniam em conventículos, sem pastores nem organização eclesiástica, para orar e cantar juntos, e pregar conforme o Espírito os impelia. Não se sabe exatamente como suas doutrinas chegaram a Scheffler; mas, como havia menonitas até na Universidade, como os livros de Böhme, segundo a fórmula de Scheffler, “corriam o país” naquela época, não é de se espantar que Scheffler tenha conhecido tanto o movimento menonita quanto as obras do “Philosophus teutonicus”.

É um momento de crise na vida interior de Scheffler. Ele já percorreu, aos vinte e poucos anos, o círculo dos conhecimentos humanos, como um jovem Fausto do século XVII. Ele conhece a medicina, o direito, a filosofia, e sem dúvida tudo isso ainda não é suficiente para seu espírito tão móvel. Seu distúrbio é, em sua origem, totalmente intelectual, mas as ciências o levam pouco a pouco às últimas questões. Toda a sua vida, ele manteve o sentido do essencial, da unidade espiritual que só se alcança superando o mundo do múltiplo; assim, em sua sede de saber, ele busca então a verdade una que conteria todas as outras. Cartesianismo, estoicismo, doutrinas esotéricas ou “teologia viva”? Inúmeras são as vias que se abrem a Scheffler, sem que ele tenha em si uma certeza religiosa para guiá-lo com segurança. Suas críticas posteriores contra o luteranismo provam que ele nunca foi um protestante profundo; ele vê no protestantismo apenas um corpo de dogmas e uma ética, não uma fé. Até esses anos de Leiden, o ardor de sua natureza se voltava para atividades puramente intelectuais, para seus estudos; agora, ele não pode mais permanecer indiferente aos problemas religiosos que se apresentam a ele. Ele “desperta”, para usar antecipadamente o termo pietista, e se encontra sem certeza, tentado pelas opiniões mais diversas, indeciso, atraído pela doutrina da inspiração direta pelo Espírito, mas inquietado pela fragilidade que sente na base de tal posição. Este instável está em busca de uma verdade sólida. Ele formulará mais tarde um dilema do qual ele sem dúvida toma consciência então, nesses anos de reflexão: ou uma Autoridade eclesiástica que não se baseia em nada, ou uma liberdade espiritual absoluta, a do Menonita e de Jakob Böhme. E como essa última atitude não o teria tentado? Outros gênios religiosos de seu século passaram por essa mesma fase. Rembrandt e Spinoza, também eles, frequentaram os mesmos conventículos que Johan Scheffler; mas eles encontraram sua verdade interior mais rapidamente do que o silesiano que, por quase dez anos ainda, vai se questionar e hesitar, para chegar à submissão sob a disciplina da única Igreja universal. Onde Rembrandt e Spinoza resolvem o dilema protestante pela conquista de uma verdade tão alta, tão luminosa que não pode haver dúvida em sua presença, Scheffler busca, por anos, fundamentar sua fé em sua vida e seu pensamento; em Leiden, talvez ele já conheça o catolicismo; mas é certo que começa então o pensamento febril de onde nasceu o *Peregrino Querubínico*, e que o levará finalmente, por uma última superação, a se despojar do pensamento para agir na Igreja.