Paul Nothomb — O SEGUNDO RELATO
Gen 2,24 Eis porque cada um (ish) deixará seu Pai e sua mãe e se ligará a sua cada uma (isha) e se tornarão uma só carne.
Este versículo é frequentemente citado na «fonte escriturária» da «instituição do casamento». Mas porque somente do casamento, que não tem mais lugar no Éden que a paternidade, a procriação, o nascimento, a morte, em resumo que a «condição humana» evocada aqui integralmente, justo após a abusiva nomeação da mulher. Trata-se evidentemente de uma glosa mais bastante oportuna no meu entendimento, inserida no relato neste lugar. Ela sublinha que, contrariamente à opinião comum e à tradição, o drama da Queda não começa com a aparição da «serpente». É o Homem masculino que cedeu primeiramente à atração de sua própria lógica, em substituindo ao «eu» e ao «tu» de sua relação natural no jardim com seu «alter ego» o «ele» e o «ela» impessoais, o «essa-aí» e enfim «isso». Se a Queda ainda não se consumiu, é ao menos armada, e esta glosa com lucidez a anuncia.
Ela confirma de outro modo que o evento que os futuros indivíduos da «condição humana» serão Convidados a comemorar, ou a imitar no «casamento», não é a pretensa extração de uma «costela» de Adão para produzir Eva, mas a primeira união carnal entre dois seres conscientes, tão prodigiosa, que Deus ele mesmo é considerado haver presidido no jardim. — LEO SCHAYA — CRIAÇÃO EM DEUS
Assim, Deus fez vir até Adão todas as almas do paraíso, envelopadas da substância adâmica mesma, até aquela que representava a imagem própria do homem: Eva, que era ao mesmo tempo ele e outro que ele, a fim de se unir a ele e de ser «uma só carne», um só corpo luminoso, com ele. Ela vinha recuperar com ele a unidade do Ser e, por aí, a Unidade do Andrógino Divino, da Essência e da Substância, do Santo, bendito seja, e de sua Shekhinah. Para se unir na terra, como estão unidas no céu, «todas as formas das almas destinadas a nascer aqui em baixo se mantêm diante de Deus por pares; quando elas descem neste baixo mundo, o Santo, bendito seja, as une de novo» (Zohar I 91b). Em definitivo, «tudo o que tem lugar neste mundo é o efeito do Mistério supremo» (ibid.), o Mistério do Uno, que também é o Mistério do Homem. É porque neste Mistério Adão era uno com todas as coisas de acima e de abaixo, que conhecia também seus nomes.