NOTHOMB SEGUNDO RELATO 2,18

Paul Nothomb — O SEGUNDO RELATO

Gen 2,18 E Deus pensou: não é bom para o Homem estar só com ele, vou o fazer se fazer para ele, ajuda ao mesmo tempo semelhante e oposta a ele.

O que choca neste versículo que passa, na tradução de nossas bíblias, por anunciar a pretensa extração da Mulher da costela do Homem, é o triplo martelamento do pronome sufixo «waw» no final do adjetivo «só» («levado») da preposição «para» («lo») e da preposição composta «ao mesmo tempo semelhante e oposta» («kenedo»). Este sufixo do gênero masculino se relaciona ao Homem e sublinha por sua insistência o que o emprego do Verbo «fazer» com Deus por sujeito implica sempre em seus relatos. Este «fazer» é um causativo e significa «fazer fazer», aqui pelo Homem. No episódio que começa Deus não intervem enquanto Criador, nem mesmo como ator mas como diretor um pouco «taumaturgo». É o Homem que desempenha e se descobre a si mesmo sua complementaridade, e a virtude expansiva de sua sexualidade, que não vivia até então, assim parece.

«Só para ele» sugere que ele se sentia só, não que o fosse. Sua «concepção» em Gen 2,1 é paralela a sua Criação em Gen 1,27, onde está presente desde a origem como «macho e fêmea». Trata-se bem de um mesmo Homem («haadam» que é mostrado aqui solitário mas não diferente de natureza. Seja designando o Homem masculino, seja o Homem feminino, seja os dois (mas sempre sintaticamente do gênero masculino mesmo quando não o é semanticamente, e sempre no singular mesmo quando se entende no «dual»). Solitário sem dúvida pelas necessidades da causa, para nos fazer assistir a princípio ao psicodrama da «denominação dos animais», em seguida à «operação» atribuída a Deus, enfim ao início do verdadeiro drama…

«Ajuda ao mesmo tempo semelhante e oposta a ele» é a tradução literal de CZR KNGDW do texto onde KNGDW se decompõe na preposição K- («como») NGD («contra», «diante», «face a») e W (sufixo pronominal «ele»). Seu sentido exprime o que é por natureza o Homem masculino para o Homem feminino, assim como o Homem feminino para o Homem masculino, mesmo se no contexto eles ainda não se aperceberam. Deus vai pô-los em situação de disto se aperceberem, lhes dar a ocasião de se tornar por eles mesmo o que são. — LEO SCHAYA — CRIAÇÃO EM DEUS

Não fazendo senão um com Deus e seu Nome — ou sua Revelação própria — o Adão universal e andrógino em se conhecendo ele mesmo, conhece Deus e todas as coisas em Deus: conhece todos os nomes e todas as formas das coisas, a partir de seus arquétipos divinos, que nele estão como as centelhas no sol. Todas as existências nele se encontram, dele se irradiam e a ele se apresentam sob seus nomes e formas eternos, que se manifestam no paraíso de acima em modo sutil e no paraíso de abaixo em modo etéreo, se situando entre a sutilidade celeste e a solidez terrestre. Portanto, como no mundo celeste, no paraíso terrestre «todas as almas vivas» saem de Adão, e seus corpos edênicos dão formados da substância adâmica, ADaMaH — o H final desta palavra simbolizando por si mesmo a substância etérea do corpo de Adão —. Todas estas almas, das quais Adão é a síntese inicial, terão por síntese final Eva. Eis porque, antes de dar formas e corpos a estas almas, «YHWH Elohim disse (em indicando a meta antropocêntrica desta formação e corporificação): Não é bom que o homem seja só; lhe farei uma ajuda a seus costados.