Paul Nothomb — O SEGUNDO RELATO
Gen 2,15 E Deus tomou o Homem e o depôs, livre, no jardim de Éden para cultivá-la e guardá-la.
Todas nossas bíblias ignoram totalmente o pronome do gênero feminino sufixado aos verbos no infinitivo «cultivar» e «guardar» em hebreu (L'BDH WL (SH) MRH) e que não pode se relacionar à GN (jardim) que é o do gênero masculino, e traduzem como se nada assim houvesse, «para cultivá-LO e para guardá-LO» sem mesmo
mencionar por uma nota esta anomalia flagrante ao leitor. A falta de sintaxe ou erro de copista me parece a excluir em um texto tão revisto e corrigido por gerações de escribas. Salvo a buscar o nome do gênero feminino ao qual remetem estes pronomes sufixos (como o faz o Midrash aí vendo uma alusão à Torah) completamente fora do texto, e mesmo fora do relato e do conjunto da «Bíblia das Origens», me parece evidente que é nos versículos precedentes mais próximos que se encontra. Mas deve-se levar em conta o parêntese dos quatro versículos 10-14, examinados anteriormente e subir desde aí, à frase do versículo 8 onde é dito que Deus, depois de ter plantado uma jardim em Éden, «aí pôs o Homem que tinha concebido». Nosso versículo aí se associa posto que ele repete de alguma maneira sua proposição em outros termos, com um outro Verbo, e importantes precisões que o texto não podia dar antes de ter falado das «árvores» em Gen 2,9. Ora no versículo 7 que precede imediatamente há a reunião de dois nomes no «estado construído» cujo primeiro determina o gênero, e que é do gênero feminino, que no meu entendimento se impõe. É N (SH) MAT HYYM (pronunciado «nishmat haïm») que traduzo por «consciência de existir».
N (SH) MT HYYM me parece se impôr apesar da proximidade maior no texto de NP (SH) HYH, ela também em hebreu do gênero feminino, e que traduzo por «animal», porque esta qualidade de animal conferida ao Homem em último lugar não me parece depender de sua liberdade, ao contrário de sua consciência, e singularmente desta «consciência de existir» que Deus soprou em seu cérebro (literalmente: em suas narinas) depois de tê-lo concebido. No Relato dos Seis Dias, é também a consciência, sob o nome de «luz» que Deus suscitou para começar «na cabeça» do Homem. Todo o resto, toda a Realidade da Criação, disto decorre, e se o Homem pode a reduzir e a ocultar, pode também cultivá-la. E a tradução correta dos dois infinitivos em nossa frase é «cultivá-la para guardá-la». Ela nos ensina que a consciência de existir, literalmente a consciência de Vida, não é adquirida ao Homem. Para guardá-la, deve cultivá-la. Trata-se bem entendido da Vida plena e intensa que exprime a palavra hebraica HYYM, que está sempre no plural, o plural de intensidade, e que se encontra na «Árvore de Vida» ('(TS) HHYYM) que simboliza a imortalidade, a Vida da Vida, a árvore que a concretiza e a palavra que a significa. A Vida é também representada pela árvore no «nome de código» da Realidade («a árvore do Conhecimento total»), que o Homem deve por prioridade «guardar» no jardim, como o veremos no versículo seguinte.
Nosso atual versículo a princípio se refere desde o início à concepção do Homem em Gen 2,7 dizedno «Deus tomou o Homem». Donde, senão da Adama, como o confirmará em Gen 3,19 o emprego do verbo LQH na frase «mas dela foste tirado» (da adama, literalmente «mas tu foste tomado fora dela» (KY MMNH LQHT).
O verbo que substitui e nosso versículo aquele do Gen 2,8 onde é dito «e pôs o Homem», em hebreu (SH) M, é o verbo NWH na forma causativa, que quer dizer «depôr» com uma nuance de abandono, no sentido de «deixar livre», «deixar tranquilo». No jardim o Homem vai exercer sua liberdade, graças a sua consciência de existir plenamente, e na Medida que a cultivará para guardá-la. — LEO SCHAYA — CRIAÇÃO EM DEUS
E YHWH Elohim tomou o homem (do «Éden supremo» onde ele é o «Homem transcendente» e infinito não fazendo senão um com Deus), e (deste estado transcendente onde é a Essência mesma de todas as coisas, Deus fê-lo descer através dos «quatro mundos» e) o colocou (enquanto sua Síntese ao mesmo tempo inicial e final, sob a forma do homem individual, mas intrinsecamente universal e divina, no Centro espiritual do mundo de abaixo), no jardim do Éden (terrestre), para que ele cultivasse (por sua própria união permanente à Presença real) e o guardasse (intacto, enquanto seu próprio estado espiritual, deiforme e deificante, e para que, assim sendo, todos os mundos de acima e de abaixo fossem um: pois ele, o Homem é sua Síntese superior e inferior, seu «Traço de União» ou Mediador).