Paul Nothomb — RELATOS DA CRIAÇÃO
Nossas bíblias traduzem este versículo em termos religiosos anacrônicos da Bíblia posterior («abençoar», «santificar», «repousar-se») como se Deus instituísse, e festejasse ele mesmo o primeiro, o dia do Shabbat. Mas se Deus pôs a parte (sentido primeiro de QD(SH) «santificar») este dia já marcado no texto pela anomalia da determinação de seu qualificativo como «o» sexto antes dele, é que «o» sétimo vê o evento do Homem depois de sua Criação. Estes dois dias são aqueles onde a liberdade de Deus cede lugar à liberdade do Homem em seu «lugar». Deus cessou de Criar, seja indiretamente, em «fazendo fazer» pelo Homem a Realidade a partir do «Tohu-Bohu» (que este tenha sido modificado ou não previamente por uma cosmogonia «objetiva» da qual este relato, no meu entendimento, não fala jamais senão em aparência, por precaução de linguagem) e ficamos sabendo ao final que desde o início se Deus Criou é para «fazer» sem a forma causativa, quer dizer para permitir ao Homem, por conta dos Seis Dias, de «fazer» e de exercer plenamente sua liberdade face à Criação que lhe é confiada. Não para continuá-la (ela está completada) mas para prossegui-la no tempo, sempre nova, de «dia um» em «dia um».