NOTHOMB CRIAÇÃO RELATO 31

Paul Nothomb — RELATOS DA CRIAÇÃO

Gen 1,31 E «Deus» viu tudo que tinha feito (fazer) e eis (era) muito bom. Houve uma duração completa («uma noite e uma manhã»). Dia o sexto.

Esta vez não é mais uma parte de sua obra que Deus declara «boa» assim como a «viu» em seis ocasiões desde o início do relato, é em seu conjunto agora que ela está completa, com a Criação do Homem, e isso que acaba de dizer-lhe, que ele declara «muito bom». Sua «obra» (em hebreu a palavra aparecerá no texto em Gen 2,2 a seguir) é aqui «tudo isso que fez» ou melhor «fez fazer». Mas por quem? Por quem Deus fez fazer isso que não expressamente Criou? Ou por que? Pode-se pensar, como sugeri anteriormente, na dinâmica da Evolução impulsionada a princípio pelo «Criou» inicial, depois pelo «Criou» do Gen 1,21 enfim pelo triplo «Criou» de Gen 1,27 e que esgota as potencialidades contidas nestes «saltos qualitativos» sucessivos. Mas é se colocar na perspectiva tradicional que interpreta este relato como um ensaio de «cosmogonia objetiva» enquanto aí vejo uma «cosmogonia subjetiva» se desenrolando «na cabeça do homem», presente desde o início, como o será cronologicamente no Segundo Relato. E nesta interpretação que é a minha, e que creio boa, apesar do quadro didático dos Seis Dias, só pode ser o Homem ele mesmo a quem Deus «faz fazer» e que «inventa» pouco a pouco a Realidade que Deus «no princípio» Criou em germe «em sua cabeça». Precisarei isto no versículo seguinte.

As traduções de nossas bíblias negligenciam o artigo definido que precede em hebreu o adjetivo numérico «sexto» qualificando a palavra «dia». A sintaxe desejaria que o adjetivo sendo determinado o nome que ele qualifica o seja também. Esta anomalia chama sem dúvida a atenção sobre o caráter particular deste «sexto dia», aquele da Criação do Homem. E veremos que ela se reproduz no sétimo dia.