NOTHOMB CRIAÇÃO RELATO 10

Paul Nothomb — RELATOS DA CRIAÇÃO

Gen 1,10 E «Deus» chamou o seco terra, e chamou o confluente das águas mares. E «Deus» viu que (isso era) bom.

O hábito de ler este relato como um esquema — superado — de cosmogonia objetiva nos faz imaginar a aparição do «seco» como um cataclismo geológico, baixa maré, elevação do fundo dos oceanos, vulcões em erupção, uma espécie de dilúvio ao inverso. Mas trata-se aqui da Criação da Realidade na cabeça do Homem, que logo já existe mesmo se ainda não tem consciência de seu papel decisivo como depositário desta Realidade que, sem ele, se desvanece imediatamente para dar lugar ao «Tohu-Bohu». (Hoje em dia como antes, o mundo dito «objetivo» dos cientistas, o mundo exterior e anterior à observação, na ausência de todo cérebro animal capaz de «inventar» tão pouco que seja seu ambiente, é simplesmente o caos retornado, sem forma, nem cor, nem significação, atravessado de partículas em movimento, de ondas eletromagnéticas, de energia sem meta, e um vazio «interestelar»). O que Deus declara «bom» não é a extensão, nem uma porção de extensão liberada das águas de «abaixo» mas o nome de «terra» dado a esta porção privilegiada da extensão. Bom para o Homem porque a terra é o domínio do Homem que dela toma assim consciência. E assim como a luz nomeada «dia» aclara a obscuridade retirada do Tohu-Bohu e nomeada «noite», assim também a «terra» no sentido amplo engloba as águas de baixo que ela delimita sob o nome de «mares» no domínio do Homem. Seu «lugar».

Este versículo relata a verdadeira criação da terra, como o versículo precedente aquela do céu, eventos subjetivos independentes daquele anunciado de maneira geral no início do relato pela fórmula totalizante da criação do «céu e da terra» quer dizer da Realidade em «Seis dias» na cabeça do Homem.

Annick de Souzenelle — Alliance de feu : Tome 1, Une lecture chrétienne du texte hébreu de la Genèse

Gn 1,10 E chama Elohim o seco terra, e a junção das águas Ele chama mares. E vê Elohim porque realizado.

A realização, completude do Yod é «terra» ou: «participação a Elohim»

A junção das águas é a «esperança». A esperança é o potencial de realização reunido no Homem. Ela é uma virtude ontológica. Fizemos uma virtude psíquica consistindo em tudo esperar de um deus exterior totalmente estranho a nosso Divino enquanto ignorado. A fé é a certeza da realização no Aleph-Pai. A esperança é o conhecimento do potencial de realização da dimensão de Filho. A caridade é amor, aliança-fogo que é a obra do Espírito.

A junção das águas — Esperança — Deus a chama Mares ou Dias. São espaços-tempos interiores ao Homem. O espaço e o tempo são a única luz a vir. Em sua dualidade são portadores de um único princípio dinâmica.