Paul Nothomb — RELATOS DA CRIAÇÃO
A operação descrita como bastante laboriosa, posto que depois de ter sido anunciada ela teve ainda de ser confirmada. «E assim foi.» A fórmula em hebreu WYHY KN faz eco tardiamente à instantaneidade WYHY 'WR do primeiro dia, e não é seguida mesmo tardiamente de o «satisfecit» Divino expresso não somente no primeiro dia mas todos os outros dias da Criação. O segundo dia é o único onde não é dito «E Deus viu que isto era bom». Bom para o Homem, bem entendido. Se necessitará esperar o terceiro dia para que o espaço se torne, a princípio duplo. Deve-se deduzir que a categoria do espaço guarda mais perigo para o homem que aquela do tempo? É impossível JULGAR segundo os nossos termos, certamente modificados pela «Queda» como o prova nosso tempo linear e irreversível. No relato do Jardim do Éden, parece que lidamos com um espaço de mais de três dimensões, posto que aí reina uma unidade que se dispersa logo que se sai do jardim, tanto geograficamente (o único rio se dividindo em quatro ramos) quanto humanamente (o casal imortal dando nascimento à humanidade mortal).
Se no versículo tratando do caos primordial, era duas vezes questão de “acima” («acima do abismo e «acima das águas») no nosso versículo aparece a noção de «abaixo» se opondo a esse «acima» e lhe dando sentido. Como a luz dá sua obscuridade. Aqui é interessante notar que é o «baixo» que dá sentido ao «alto». É «em baixo» que no terceiro dia o espaço vai se desdobrar para o Homem, para o espírito do Homem, e se tornar «bom».