Gregório NISSA VONTADE PERFEITA

A "vontade perfeita" de Deus

O que o Apóstolo entende por “vontade perfeita” de Deus é que a alma seja informada pela piedade, essa alma que a graça do Espírito faz florescer até o cume da beleza, participando das provações daquele que se transforma assim.

O crescimento do corpo não depende de nós, pois não é por sua decisão nem a seu bel prazer que a natureza fixa o seu tamanho; ela segue o seu próprio impulso e necessidade. Na ordem do novo nascimento, ao contrário, a Medida e a beleza da alma — que a graça do Espírito realiza através do zelo daquele que a recebe depende de nossas decisões. Quanto mais intensificas os teus esforços em favor da piedade, tanto mais crescerá também a estatura da tua alma, através desses esforços e lutas para os quais o Senhor nos encoraja, dizendo: “Esforçai-vos por entrar pela Porta Estreita”( Mt 7,13 ). E ainda: “Fazei violência, pois os violentos é que se apoderam do reino dos céus”. E: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” ( Mt 24,13 ). E ainda: “Pela paciência possuireis as vossas almas” ( Lc 21,19 ). O Apóstolo diz, por sua vez: “Corramos com perseverança no certame que nos é proposto”( Hb 12,1 ). E: “Correi, de maneira a conquistar o prêmio” ( 1 Cor 9,24 ). E ainda: “Como servos de Deus, por uma incansável perseverança” ( 2 Cor 6,4 ), etc. Assim, Ele nos convida a correr e nos encoraja a nos esforçarmos nesses combates, pois o dom da graça é proporcional aos esforços de quem a recebe.

Porque, se a graça do Espírito concede a Vida Eterna e a alegria inefável nos céus, é o amor que, pela fé acompanhada de obras, conquista o prêmio, atrai os dons e se compraz com a graça.

A graça do Espírito e a obra boa concorrem para o mesmo fim: elas cumulam a alma, em que se encontram, com a vida bem-aventurada ( Tg 2,22-26 ). Ao contrário, quando separadas, nenhum benefício obtém para a alma; a graça de Deus é de tal natureza que não pode visitar as almas que recusam a salvação e o poder da virtude humana não é, por si mesmo, suficiente para elevar até a vida celeste as que não participam da graça. “Se o Senhor não constrói a casa e não guarda a cidade,” diz a Escritura, “é em vão que o guarda a vigia e que se esforça o construtor” ( S1126,1 ). E ainda: “Não foi seu braço que os salvou — ainda que os braços e as espadas tenham servido para o combate — mas sim a tua mão e o teu braço e a luz da tua face” ( SI 43,4 )

Que significa isso? Significa que, do alto, o Senhor faz uma aliança com os que se esforçam e, ao mesmo tempo, que os homens não devem pensar que todas as coroas dependem só de suas lutas, mas é necessário que todas as suas esperanças estejam fundadas na vontade de Deus. ( Ex 14,25; Dt 1,30; 3,22; 2 Rs 6,16 ).

Devemos, pois, conhecer primeiramente qual é a vontade de Deus; depois, considerá-la atentamente e dirigir para ela a busca da vida bem-aventurada, procurando conformar com ela a sua própria vida.

A “vontade perfeita”de Deus é purificar a alma de todas as manchas pela graça, elevá-la acima dos prazeres do corpo e fazer com que ela se ofereça a Deus, pura, desejosa e capaz de contemplar a luz inteligível e inefável. São esses que o Senhor declara Bem-aventurados. “Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus” ( Mt 5,8 ). E em outro lugar ele ordena: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” ( Mt 5,48 ) Também o Apóstolo exorta a correr para essa perfeição, quando diz: “Para conduzir todo homem à perfeição em Cristo, eu me esforço e luto” ( Cl 1,28-29 ).