===== FABRE D'OLIVET (TANNER) – SEPTUAGINTA E VULGATA ===== ATFO Aqueles dentre os Padres cujos olhos não estavam totalmente fascinados buscavam meios para eludir as maiores dificuldades. Alguns acusavam os [[evangelho-de-jesus:evangelho-personagens:judeus:start|Judeus]] de terem introduzido nos livros de [[biblia:tipologia:moises:start|Moisés]] coisas falsas e injuriosas à [[biblia:figuras:divindade:start|Divindade]]; outros recorriam às alegorias. Santo Agostinho reconhecia que não havia como conservar o sentido literal dos três primeiros capítulos do Gênesis sem ferir a piedade, sem atribuir a [[biblia:figuras:divindade:deus:start|Deus]] coisas indignas dele August., Contra Faust. L. XXXII, 10. De Genes., Contr. Manich. L. II, 2.. [[ate-agostinho:origenes:start|Orígenes]] admitia que, se se tomasse a história da criação no sentido literal, ela seria absurda e contraditória Origen, De philocal., p. 12.. Compadecia-se dos ignorantes que, seduzidos pela letra da [[biblia:start|Bíblia]], atribuíam a Deus sentimentos e ações que não se atribuiriam ao mais injusto e bárbaro dos homens. (...) O último dos Padres que viu o horrível defeito da versão dos helenistas e quis remediá-lo foi São [[ate-agostinho:jeronimo:start|Jerônimo]]. Presto inteira justiça a suas intenções. Esse Padre, de caráter ardente, de espírito explorador, teria remediado o mal, se o mal fosse de natureza a ceder a seus esforços. Muito prudente para causar um [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:escandalo:start|escândalo]] semelhante ao de Marcião ou de Manés; muito judicioso para se encerrar em vãs sutilezas como Orígenes ou Santo Agostinho, sentiu bem que o único meio de chegar à verdade era recorrer ao texto original. Esse texto era inteiramente desconhecido. Era sobre o greco, coisa extraordinária e totalmente bizarra!, que se havia feito, à [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:medida:start|Medida]] que se precisava, não apenas a versão latina, mas a copta, a etíope, a árabe, a siríaca e as outras. Mas, para recorrer ao texto original, seria preciso entender o hebraico. E como entender uma língua perdida há mais de mil anos? Os judeus, à exceção de um pequeno número de sábios aos quais os mais horríveis tormentos não a teriam arrancado, mal a conheciam melhor que São Jerônimo. No entanto, o único meio que restava a esse Padre era dirigir-se aos judeus. Tomou um mestre entre os rabinos da escola de Tiberíades. Diante dessa notícia, toda a Igreja cristã soltou um grito de indignação. Santo Agostinho censura abertamente São Jerônimo. Rufino o ataca sem reservas. São Jerônimo, alvo dessa tempestade, arrepende-se de ter dito que a versão dos Setenta era má; tergiversa; às vezes diz, para lisonjear o vulgo, que o texto hebraico está corrompido, às vezes exalta esse texto, do qual afirma que os judeus não puderam corromper uma única linha. Quando se lhe reprovam essas contradições, responde que se ignoram as leis da dialética, que não se sabe que nas disputas se fala de um modo e de outro, e que se faz o contrário do que se diz. Apoia-se no exemplo de São Paulo, cita Orígenes. Rufino o trata de ímpio, responde-lhe que Orígenes nunca se esqueceu a ponto de traduzir o hebraico, e que apenas judeus ou apóstatas podem empreendê-lo. Santo Agostinho, um pouco menos exaltado, não acusa os judeus de terem corrompido o texto sagrado; não trata São Jerônimo de ímpio e apóstata; admite mesmo que a Versão dos Setenta é muitas vezes incompreensível; mas recorre à providência de Deus August., De doct. Christ., que permitiu que esses intérpretes traduzissem a Escritura da maneira que julgou mais conveniente para as nações que deviam abraçar a religião cristã. No meio dessas contradições sem número, São Jerônimo tem a coragem de prosseguir seu desígnio; mas outras contradições, outros obstáculos mais terríveis o esperam. Vê que o hebraico que quer apreender lhe escapa a cada instante; que os judeus que consulta vacilam na maior incerteza; que não concordam sobre o sentido das palavras, que não têm nenhum princípio fixo, nenhuma gramática; que o único léxico enfim de que pode servir-se é essa mesma versão helenística que pretendeu corrigir. Qual é, pois, o resultado de seu trabalho? Uma nova tradução da Bíblia grega, feita em um latim um pouco menos bárbaro que as traduções precedentes, e confrontada com o texto hebraico no que diz respeito às formas literais. São Jerônimo não podia fazer mais. Tivesse ele penetrado nos princípios mais íntimos do hebraico; o gênio dessa língua tivesse-se revelado a seus olhos, teria sido constrangido pela força das coisas, ou a calar-se, ou a encerrar-se na versão dos helenistas. Essa versão, julgada fruto de uma inspiração divina, dominava os espíritos de tal modo que era preciso perder-se como Marcião, ou segui-la em sua obscuridade necessária. Eis qual é a tradução latina que se chama habitualmente de Vulgata. O Concílio de Trento declarou essa tradução autêntica, sem todavia declará-la infalível; mas a Inquisção a apoiou com toda a força de seus argumentos, e os teólogos com todo o peso de sua intolerância e parcialidade. (...) É impossível sair jamais desse círculo vicioso se não se adquirir um conhecimento verdadeiro e perfeito da língua hebraica. Mas como adquirir esse conhecimento? Como? Restabelecendo essa língua perdida em seus princípios originários; sacudindo o jugo dos helenistas; reconstruindo seu léxico, penetrando nos santuários dos essênios; desconfiando da doutrina exterior dos judeus; abrindo enfim essa arca santa que, há mais de três mil anos, fechada a todos os profanos, trouxe até nós, por um decreto da Providência divina, os tesouros acumulados pela sabedoria dos egípcios. {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}