===== SEMEION ===== [[philokalia:philokalia-termos:semeion:start|semeion]] — sinal, milagre == VIDE: Milagres de Jesus == Então alguns dos escribas e dos [[biblia:figuras:nt-personagens:fariseus:start|Fariseus]] tomaram a palavra, dizendo: Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal. Mas ele lhes respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta [[biblia:tipologia:jonas:start|Jonas]]; (Mt 12:38-39) E, chegando-se os fariseus e os saduceus, para o tentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu. Mas ele, respondendo, disse-lhes: Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro. E, pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis discernir a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se. (Mt 16:1-4) Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. (Jo 2:11) Responderam, pois, os [[evangelho-de-jesus:evangelho-personagens:judeus:start|Judeus]], e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto? (Jo 2:18) E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. (Jo 2:23) O que se denomina 'milagre" (do latim mirari: aquilo que surpreende, de que se admira), ou "prodígio", isto que o Novo testamento chama melhor de "sinal" (semeion) não é, no que concerne o rabi palestino Ieschoua, uma operação que viola as "leis naturais", nem o "determinismo" destas leis. Os únicos "milagres" do rabi Ieschoua são curas, e não importa quais curas. Os milagres do rabi são regenerações. Se aquilo que as numerosas tradições relatam dele é verdadeiro, então ele tinha o poder de regenerar aquilo que estava enfermo, de re-informar, de dentro, o que esta deformado, e de restabelecer as "leis naturais" fisiológicas deterioradas. Em suma, ele tinha — se as tradições são exatas — o poder de recriar, de reorganizar o que tinha sido organizado e que se desorganizou. Claude [[estudos:tresmontant:start|Tresmontant]] L'enseignement de Ieschoua de Nazareth. ==== Sinais e Fé ==== Joaquim Carreira das Neves, "Escritos de São João" Segundo Jo 20, 30-31, os sinais de Jesus têm por fim conduzir os leitores a acreditarem que Jesus é o Messias e o [[biblia:figuras:pai-mae-filho:filho:start|Filho]] de [[biblia:figuras:divindade:deus:start|Deus]] e, assim crendo, tenham a vida n'Ele. Existe, pois, uma relação muito íntima entre os sinais e a fé e, entre a fé e a VIDA. Dito isto, há que perguntar: 1) O que são os sinais? 2) Qual a função dos sinais? 3) Qual a relação entre os sinais e a fé? Em João, de modo um pouco diferente dos Sinópticos, sinal é um ato que confirma a verdade daquilo que Jesus disse ou revelou. Nos Sinópticos, sinal é um ato extraordinário vindo do céu (Mc 8, 11: "Apareceram os fariseus e começaram a discutir com ele, pedindo-lhe um sinal do céu para o pôr à prova"; cf. Mc 13, 4.22). Assim se explica que nos Sinópticos, os sinais sejam classificados em grego como [[philokalia:philokalia-termos:dynamis:start|dynamis]]-dynameis (poder-poderes ou força-forças extraordinárias), enquanto que em João semeion — semeia (sinal-sinais). Nos Sinópticos, o sinal confunde-se com o milagre, enquanto que em João tanto pode ser o "milagre" como outra ação. No AT, o sinal é uma ação profética que significa uma intervenção divina de bênção ou de castigo (Is 7,14; Jr 13,12-14; 16, 1ss; 18, 1ss; 19, 1ss; 32, 8-16). Em João, este sentido também aparece, mas, geralmente, o sinal joânico tem sempre um sentido positivo, de bênção, por um lado, e de revelação, por outro lado. Os milagres ([[evangelho-de-jesus:milagres-de-jesus:bodas:start|Bodas]] de Caná, cura do filho do centurião romano, [[evangelho-de-jesus:milagres-de-jesus:cura-do-paralitico:start|Cura do Paralítico]] de Betzatá, cura do cego de nascença, ressuscitação de Lázaro), são sinais do poder de Jesus conferir VIDA. E, como já vimos, é natural que, na primeira camada redacional do evangelho, existisse, de maneira autônoma, um evangelho dos sinais-milagres, bem à maneira da tradição sinóptica. Por isso se lê em 12, 37: "Embora Jesus tivesse realizado diante deles tantos sinais, não criam nele". A este final juntar-se-ia o final de 20, 30-31. Notemos também que João usa a palavra erga (obras) para a atividade mais vasta de Jesus, geralmente relacionada com a atividade conjunta com o [[estudos:ernst-benz:pai:start|Pai]] (4, 34; 5, 20.36; 6, 28-29; 7, 3.21; 9, 3. 4; 10, 32.37; 14, 12; 15, 24; 17, 4).Também estas obras de Jesus têm por objectivo a fé dos ouvintes (6, 29: para que acrediteis; 10, 37-38: "Se não faço as obras do meu Pai, não creiais em mim; mas se as faço, embora não queirais [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:crer:start|Crer]] em mim, crede nas obras..."). E esta causalidade entre obras e fé que leva Jesus a dizer em 14,12: "Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que realizo, e fará obras maiores do que estas, porque eu vou para o Pai." Se os "sinais" e as "obras" se relacionam com a "fé", todas as ações de Jesus no [[evangelho-de-jesus:evangelhos:evangelho-de-joao:start|Evangelho de João]], que tenham a ver direta ou indiretamente com a fé, devem ser vistas como sinais. Assim acontece com a purificação do Templo (2,21 :"Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que ele o tinha dito e creram na Escritura"), com a ressuscitação de Lázaro (11, 42:"... para que venham a crer que tu me enviaste"), com a crucificação (19,35:"E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também"). Embora o quarto evangelho se divida em duas partes: o livro dos sinais (Jo 1-12) e o livro da hora (Jo 13-20), a verdade é que toda a atividade de Jesus se pode incluir como um grande SINAL a ser descoberto pela fé. E se os sinais-milagres têm por fim dar a vida física e os sinais-dons (bodas de Caná e multiplicação dos pães e dos peixes) a vida da abundância messiânica, todos os "sinais" e todas as "obras" desaguam na VIDA da fé para a [[philokalia:larchet:morte-tradicao-ortodoxa:vida-eterna:start|Vida Eterna]]. Neste particular é importante repararmos nos "sinais-dons" das bodas de Caná e da multiplicação dos pães e dos peixes, se tivermos em conta as tradições judaicas sobre os tempos da abundância messiânica em relação ao vinho (1Henoc 10, 19; 2 Apc. Bar. 29, 5) e ao pão-maná. Assim como Deus é o Senhor da VIDA, também o seu Filho e Messias se junta ao Pai e Criador para renovar esta VIDA física e espiritual — a vida da abundância divina em todo o seu sentido. Parece estranho que Jo 4,48 apresente Jesus contrário aos sinais: "Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não credes". Mas já sabemos que a cura do filho do funcionário real (Jo 4,46,54) pertence à primeira camada redacional do evangelho, de acordo com os Sinópticos, que tem como pano de fundo a cristologia sinóptica do segredo messiânico, ao contrário da cristologia joânica fundamentada no grande sinal da glória de Jesus (1, 14: "E o [[biblia:figuras:verbo:start|Verbo]] fez-se homem / e veio habitar connosco. / E nós contemplamos a sua glória, / a glória que possui como Filho Unigênito do Pai, /cheio de graça e de verdade"). E se a fé anda ligada aos sinais, mormente ao grande [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:sinal-da-cruz:start|Sinal da Cruz]], não admira que muitos não acreditem em Jesus como o sinal maior do Pai (12, 37-38; 9, 24-29). A afirmação de 9,39 resume muito bem este drama e dialéctica:"Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não veem vejam, e os que veem fiquem cegos." A fé não depende diretamente dos sinais visíveis ou exteriores de Jesus, embora tais sinais, quando vistos à luz do Espírito, sejam importantes e decisivos, como acontece com a pessoa do discípulo amado, em contraste com a figura de [[biblia:figuras:nt-personagens:discipulos:pedro:start|Pedro]] (20, 8; 21, 7). E é por isso mesmo que o sinal maior de Jesus, em função da fé, continua sempre em aberto para além da sua vida terrena (20, 29: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que creem sem terem visto!"). === Juan Mateos & Juan Barreto === Excertos de "Vocabulário Teológico do Evangelho de São João", de Juan Mateos e Juan Barreto A interpretação dos sinais, a) Segundo a disposição de quem os percebe, os sinais podem-se interpretar como simples fatos (cf. 7,3: Essas obras que fazes) ou como verdadeiro sinal. Contudo, as obras de Jesus são sempre sinais, pois dão testemunho de que é o enviado do Pai (Jo 5,36). b) Nem todas as interpretações que os espectadores dão dos sinais correspondem ao seu verdadeiro sentido, por não se aplicar o verdadeiro critério de interpretação. Assim, diante do gesto messiânico de Jesus no templo, que ele denuncia como idolátrico (Jo 2,16), os discípulos recordam um texto da Escritura (Jo 2,17: a [[evangelho-de-jesus:paixao:start|paixão]] por tua casa me consumirá), que interpretam de zelo com o de [[biblia:tipologia:elias:start|Elias]]: veem em Jesus um Messias reformador, que utilizará a violência. Os sinais que Jesus realiza em Jerusalém durante aquelas festas da Páscoa, que continuam o gesto do templo, provocam a adesão de muitos; mas esta adesão, baseada em interpretação falsa (não na chave de glória/amor), faz com que Jesus não confie neles (Jo 2,23-25). O fariseu Nicodemos, por seu lado, deduz dos sinais que Jesus é Messias-mestre (Jo 3,2) a serviço da Lei, reformador que se apoia nela. É incapaz de compreender as palavras de Jesus, que demonstram o propósito do seu amor já expresso em Caná: a comunicação do Espírito ao homem a fim de tirá-lo de sua condição de "carne" (Jo 3,6). Os sinais de Jesus com os fracos-enfermos, tirando-os de sua prostração (Jo 5,3ss), despertam a esperança de multidões que o seguem (Jo 6,2). Na proximidade da segunda Páscoa (Jo 6,4), o sinal dos pães interpreta-se de duas maneiras: uns identificam Jesus com "o Profeta que tinha que vir ao mundo" (Jo 6,15), maior do que Eliseu (Jo 6,9: pães de cevada; cf. 2Rs 4,42-44); outros pretendem fazê-lo rei, segundo a ideia messiânica tradicional de chefe do povo (Jo 6,15). Esta segunda interpretação é rechaçada por Jesus, que se retira de novo ao monte (Jo 6,15). Mais tarde, a multidão o busca por próprio interesse, e não pelo significado do sinal (Jo 6,26); daí a censura de Jesus (Jo 6,36). Na proximidade da terceira Páscoa, a multidão sai de Jerusalém ao encontro com Jesus, atraída pelo sinal que realizou com Lázaro (Jo 12,18). Interpreta-o como sinal messiânico e aclama em Jesus o rei de [[philokalia:philokalia-termos:israel:start|Israel]], um Messias que há de durar para sempre (Jo 12,34); interpretam "a glória do Homem" (Jo 12,23) em chave de poder real e não aceitam o Messias que dá a vida pelo povo (Jo 12,32; cf. 11,50; 18,14). c) Os sinais de Jesus, todos expressões do seu amor, manifestam o seu desígnio: terminar o homem infundindo-lhe o Espírito, a força do amor (Caná); dar-lhe vida (Jo 4,50), integridade e liberdade (Jo 5,8s), dar-lhe dignidade e independência pelo amor que se expressa no compartilhar e no serviço mútuo (Jo 6,10s); iluminá-lo para dar-lhe o valor, a identidade e a independência diante do seu opressor (Jo 9,1ss): tudo isso incluído no dom de uma vida que supera a morte (Jo 11, 1s). Quer levar o homem ao seu pleno desenvolvimento, segundo o projeto [[biblia:figuras:divindade:divino:start|Divino]]. Pelo contrário, as interpretações que se propõem têm por denominador comum a dependência de um líder: o Messias reformador mediante a violência (Jo 2,17) ou mediante a Lei; o rei que assegura aos súditos o sustento (Jo 6,15); o rei que com sua [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:autoridade:start|Autoridade]] muda a situação em favor dos oprimidos (Jo 12,12ss). As ideologias, cujo protótipo é a Lei (Jo 12, 34), fizeram com que o homem renuncie ao desejo de ser livre. O grande sinal. Como se anuncia em Caná (Jo 2,4: a minha hora), o grande sinal de Jesus será a sua cruz; por isso é objeto de testemunho particular e solene (Jo 19,35: O que o viu pessoalmente deixa testemunho). A glória-amor que se manifesta na cruz é simbolizada pelo sangue (o amor demonstrado) e pela água (o amor comunicado, o Espírito) que saem do lado de Jesus. É o sinal do Homem levantado ao alto, de que irradia a vida (Jo 3,14s). Daí vem que a comunidade se identifique com o grupo que contempla sua glória ([[evangelho-de-jesus:no-principio-era-o-verbo:jo-114:start|Jo 1,14]]; 17,24) e participe dela ([[evangelho-de-jesus:no-principio-era-o-verbo:jo-116:start|Jo 1,16]]). A morte-exaltação de Jesus integra e explica os sinais anteriores. Uma vez que o evangelista completou com este último e grande sinal, ele caracteriza sua obra como "livro dos sinais" (Jo 20,30). {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}