===== SALMOS ===== AT — [[oracao:psalterium:salmos:start|Salmos]] VIDE: SALTÉRIO Excertos da introdução de [[biblia:chouraqui:start|André Chouraqui]] a sua tradução dos Salmos, "Louvores", Imago, 1998 A exegese hebraica nos oferece talvez a chave do plano que inspirou a composição do Saltério, quando sugere que a doutrina dos cinco livros dos Salmos é a mesma que a dos cinco livros de Moshè — o Pentateuco — dos quais são o comentário sinfônico. Um grande rigor parece ter presidido à classificação dos Salmos no interior da compilação, tal como a conhecemos hoje. [...] Desde o século XI, este livro foi traduzido cerca de duas mil vezes em francês. Esse número é eloquente. Tudo foi dito do problema da tradução, que é, como Paul Valéry bem percebeu, reconstituir o mais de perto possível o efeito de uma certa causa — aqui um texto em língua hebraica — por meio de uma outra causa — um texto em língua francesa. Essa dupla e necessária fidelidade parece aqui encurralar o tradutor no impossível. Ele deve transpor, para uma língua implacavelmente analítica, cujo gênio é a clareza, a [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:medida:start|Medida]], a precisão, um texto em que a aliança íntima do som e do sentido se exprime em ritmos e ressonâncias da visão, mais do que em ideias; se estas aparecem, elas se referem a uma contemplação do real que, a bem dizer, escapa às medidas comuns do discurso. O símbolo, ele próprio alusivo, capta no coração da realidade a imagem exata que nos comove, moldada nos harmônicos todo-poderosos do [[biblia:figuras:verbo:start|Verbo]] semítico: ele é número antes de ser forma. A [[estudos:iconografia:arte:start|Arte]] parece se tornar o instrumento de uma iniciação ao real, que ela atinge mais pela mediação da visão que do discurso; sua força é permitir a soltura da voz e a liberação do canto; a convenção da linguagem encontra sua determinação própria no chamejar de cada uma das letras do verbo e sua finalidade na salvação do homem. E, de um diamante como esse, o tradutor só pode transmitir uma opaca poeira; não importa o partido que tome, seu empreendimento o condena a sacrificar o essencial: ele já prejudicou o canto ao arrancá-lo de sua língua. Talvez reste um caminho possível, preparado pela explosão das estruturas clássicas da língua francesa nas últimas décadas. Neste país, onde nenhuma tradução da [[biblia:start|Bíblia]] conseguiu ainda se impor, os tradutores que aceitarem a aposta, o esforço e o risco de tal empreendimento deverão se orientar para a criação de uma linguagem nova que permita — como foi o caso da incomparável versão dos Setenta, da comovente Vulgata e da Authorized Version — pressentir as profundezas de vida que fazem da Bíblia o livro de YHWH Adonai Elohims. Dois milênios e vários séculos nos separam dos autores dos Salmos; eles certamente não reconheceriam o mundo em que vivemos: nós, porém, não deixamos ainda de nos reconhecer em seus cantos, o tempo não desgastou suas imagens, e sua mensagem não cessa de ser atual. Sua exigência de justiça e de universalidade, sua visão da ordem criadora e do homem pacificado exprimirão eternamente as mais gritantes necessidades de uma humanidade que continua ainda a degustar a embriaguez cega e mortífera da taça da violência. De século em século, este livro suscita e alimenta a esperança de alguns homens unidos por uma extrema intuição das realidades da vida, e que sabem a verdadeira presença do homem na ordem real do mundo, todos aqueles que escalaram ou que escalam as áridas elevações das fecundidades criadoras; todos aqueles que ouvem e seguem essa voz de além do século, para que advenha o cumprimento da promessa de justiça, mais urgente, por certo, num tempo em que o furor da besta abre, sob nossos olhos cegos ou cúmplices, as perspectivas claras de um suicídio planetário. O livro está aí e testemunha contra nós sobre o rochedo da eternidade, onde seu verbo nos convoca. É preciso tê-lo cantado, talvez, na noite do exílio, sobre os ritmos antigos do Oriente, para compreender todas as suas forças libertadoras, para saber o quanto ele pode assumir o homem e elevá-lo. Noite do Ocidente, de dilacerações dos grandes cuidados, noite atenta e silenciosa do Oriente, noite dos desertos da Judeia, ardendo numa pura chama que dança ao crepúsculo, noites do mundo e noites do espírito: a alma se entrega à salmodia, identifica-se ao homem único que geme e que sofre, que é assaltado pela iniquidade e que sangra, que é mortificado e que não cessa de cantar na extraordinária certeza que o inunda. A alma é arrebatada pelo encantamento dos ritmos hebraicos; lentamente a alma do salmista torna-se nossa alma, seu combate nosso combate, sua dor nossa dor, sua agonia nossa agonia, a de todos os homens que, nos séculos dos séculos, deram sua vida nessa viva chama. Lentamente, nossa alma se compenetra e se alimenta da alma eterna do cantor de [[philokalia:philokalia-termos:israel:start|Israel]], o brilho que o agita nos traspassa, a luz que ele pede nos deslumbra, transfigura nossas trevas em inefável alegria. Uma voz nos habita e nos encanta: ela nos arranca de nossos limites, nos faz atravessar os muros de nossas prisões, nos une aos esplendores subitamente mais próximos de nós que nós mesmos: um rosto nos ilumina, uma presença nos fecunda e, no caminho do verdadeiro conhecimento, um canto nos conduz à extremidade da noite, em tua luz, Jerusalém... CAMINHOS DOS SALMOS Três momentos articulam, portanto, os ritmos íntimos do Saltério. A noite é o reino em que o justo em sua ascese enfrenta, até o martírio, a iniquidade do criminoso. O julgamento de YHWH Adonai marca o fim da noite e restabelece a ordem real do mundo. O caminho de luz triunfa enfim na glória do reinado messiânico. Estes três temas — o caminho das trevas, o julgamento de YHWH Adonai e o caminho de luz — comandam a composição do livro e se reencontram em cada um dos poemas ou das séries de poemas que o compõem, e nos descrevem os dois caminhos, seu confronto místico, o julgamento que os desempata e que garante o triunfo da justiça sobre a iniquidade, da vida sobre a morte. Aqui, nada é deixado ao artifício do cuidado poético. Como dissemos, estamos num mundo de plena significação, submetido ao amplexo, ao deslumbramento da visão, A expressão é comandada pela ascética necessidade de circunscrever o real, de descrevê-lo em sua mais pura verdade. As palavras estão carregadas de poderes: na transparência dos símbolos, elas iniciam à verdade de YHWH Adonai. Dificilmente imaginamos uma maior intensidade de pensamento, uma coerência mais forte de expressão, transmitida com mais esplêndida liberdade, do que nessa inesgotável fonte de vida. Estudos: - LIVROS DOS SALMOS - ROSENZWEIG — LINGUAGEM DOS SALMOS Salmos: I; II; III; IV; V; VI; VII; VIII; IX; X; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-xviii:start|Salmo XVIII]]; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-xxi:start|Salmo XXI]]; SALMO XXIII; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-xli:start|Salmo XLI]]; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-lxxxii:start|Salmo LXXXII]]; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-c:start|Salmo C]]; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-cx:start|Salmo CX]]; [[oracao:psalterium:salmos:salmo-cxv:start|Salmo CXV]] {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}