===== DEUS HOMEM ===== Simone [[gnosticismo:petrement:start|Pétrement]] — O [[biblia:figuras:divindade:deus:start|Deus]] Separado ==== O Deus "Homem" ==== Os teólogos às vezes falam de um mito gnóstico do “Homem”, como se houvesse um simples mito, o mesmo para todos os sistemas gnósticos e este pudesse ser claramente definido. O nome de Homem Anthropos) é às vezes dado a uma pessoa divina, às vezes a outra. Às vezes é a primeira pessoa da Trindade que é o Homem, às vezes a segunda, às vezes ambas, e o nome pode ser dado a Ennoia, que é o Espírito, embora seja uma figura feminina. Ou pode ser dado a um dos eones do Pleroma, ou seja, para uma das entidades que são atributos divinos, em [[gnosticismo:escolas-gnosticas:valentino:start|Valentino]], e tipos de hipóstases emanadas de Deus em seus discípulos. Por vezes se tem a impressão de um simples protótipo ideal do homem terrestre, ou sua essência mais interior. Bousset tentou reunir todas estas especulações sobre o Homem em um único mito, e ainda mais, associar este mito com especulações fora do [[gnosticismo:start|Gnosticismo]] e da Cristandade. Relacionou com o mito iraniano de Gayomard e o mito hindu de Purusha. Sua estrutura é instável e as associações entre diferentes partes do todo são tênues. De acordo com Bultmann e teólogos de sua escola o mito do homem seria aproximadamente o seguinte. No princípio do tempo, uma entidade divina e luminosa, [[evangelho-de-jesus:chamada:start|Chamada]] Homem Original ou o Primeiro Homem, ou simplesmente Homem, desceu ou caiu dentro do reino dos poderes da escuridão, ou seja, dentro do mundo ou dentro da matéria. Estes poderes apreenderam o [[biblia:figuras:divindade:divino:start|Divino]] Homem. De acordo com algumas versões do mito, este homem é em parte salvo; ajudado por outras entidades, ele reascende ao reino da luz; mas algo de sua essência deve ser retido pelas sombras. De qualquer modo, seja salvo ou permanecendo prisioneiro, os poderes da escuridão qubram em pedações a substância luminosa que foram capazes dele tirar, se maneira que os fragmentos de luz divina habitam dispersos e aprisionados no mundo inferior. Estes fragmentos de luz são as almas dos seres humanos. Os poderes de escuridão buscam fazê-los esquecer sua origem de modo a retê-los entre eles. Mas deus tem piedade destas almas e os envia um salvador para relembrá-los de sua origem e de sua dignidade, de maneira que possam de novo reunir-se e ascender à luz. O Salvador é essencialmente idêntico ao primeiro Homem, seja porque a parte do primeiro Homem que foi salvo reaparece nele ou simplesmente porque é da mesma essência. Graças ao “conhecimento” que o Salvador os ensina, as almas se liberam elas mesmas do mundo ou da matéria e em se reunindo elas mesmas , reascendem em direção a sua origem. Quando todos os fragmentos de luz tiverem assim se liberado e se coligido juntos, a inter-mistura de escuridão e a luz chegará a um fim, o Homem divino e o reino de luz terá sido restabelecido em sua integridade, enquanto a escuridão cairá em seu estado primitivo. Este mito é de fato retirado do Maniqueismo, onde no mito do Primeiro Homem encontram-se todos estes elementos. Bousset reconhece esta procedência e sugere que no Gnosticismo a figura do Homem que caiu na matéria foi substituída pela figura de [[philokalia:philokalia-termos:sophia:start|sophia]], a Mãe. No Gnosticismo encontram-se especulações tratando seja do Homem (Anthropos), pensado como um ser divino; o Primeiro Homem (Proanthropos, Protos Anthropos); às vezes o Homem original (Archanthropos); ou o Homem perfeito ([[philokalia:philokalia-termos:teleios:start|teleios]] Anthropos); o Homem essencial (Anthropos ousiodes); o Homem imortal; o Homem de luz; o Homem verdadeiro; o Homem vivente; etc. === “Homem” como um Nome do Pai === Como explicar a denominação de Homem dada a Deus [[estudos:ernst-benz:pai:start|Pai]] (surpreendente e inexplicável pela cristandade). O [[biblia:figuras:pai-mae-filho:filho:start|Filho]], o mensageiro, o Salvador foi chamado Homem, o que é natural pois apareceu como homem. No entanto, uma das ideias fundamentais gnósticas era que o homem reconheceu ele mesmo nele (o Salvador), no sentido que no Salvador viu sua própria origem e destino. “Vejam, o Senhor é nosso espelho. Abram seus olhos, olhem para eles nele, e saibam os traços de suas faces”. No NT também razões podem ser encontradas para associar o nome do Homem com [[biblia:figuras:nt-personagens:cristo:start|Cristo]]. Introduzindo ele, [[evangelho-de-jesus:evangelho-personagens:pilatos:start|Pilatos]] diz: “Vejam o homem” (Jo 19,5). O nome “Filho do homem”, que parece se atribuir a ele mesmo, não significa simplesmente “homem” em hebraico e aramaico? Este significado parece ter sido esquecido muito cedo, mas estava la nos primórdios do cristianismo. Resta portanto compreender porque se usaria “Homem” como referência à Deus o Pai. Bousset não dá uma explicação suficiente. O fato do Filho ser denominado Homem não justificaria que o Pai o fosse, embora o Filho nos tenha revelado o Pai. A explicação de Schenke parece ser melhor, sem convencer. Combinação de dois fatores: a doutrina gnóstica sustenta a essência divina no interior do homem, sendo Deus da mesma essência que o homem; por outro lado, o relato do Gênesis à luz desta concepção, reforça a noção de “à imagem de Deus”, portanto de Deus como protótipo da humanidade, Homem por excelência. Crítica da explicação de Schenke: os gnósticos afirmam que o corpo humano foi criado pelos [[gnosticismo:gnose:arcontes:start|Arcontes]], à semelhança da imagem luminosa que apareceu para eles, e assim interpretam o Gênesis. Para os gnósticos não é no corpo nem na alma distinta do espírito, que a verdadeira semelhança, a profunda identidade da humanidade com Deus pode ser encontrada. O que há de divino no homem, pelo menos em certos indivíduos algumas vezes, entrou no corpo como algo estranho, “estrangeiro”. Na Kephalaia do Maniqueismo lê-se que em formando Adão os Arcontes copiaram a imagem de um ser divino, mas não sucederam em copiá-la de verdade. Os gnósticos enfatizam uma [[ate-agostinho:dionisio:teologia-negativa:start|Teologia Negativa]]: deus é incorpóreo, invisível, sem forma, inapreensível, inconcebível, inominável, e assim por diante. Os gnósticos afirmam que o que há de verdadeiramente divino no homem foi enviado para dentro de um corpo que a princípio não o continha; o “fazimento” ([[philokalia:philokalia-termos:plasis:start|plasis]]) deste corpo não os interessava tanto quanto este divino no homem e seu reconhecimento para salvação. Os gnósticos reconheciam que o homem tinha “por natureza” um elemento divino? Não parece ser o caso, pois distinguem diferentes tipos de seres humanos, dentre os quais, Valentino reconhecia alguns salvos “por natureza”, pois tinham uma [[misticismo-renano-flamengo:misticos-renano-flamengos:paralelos-renano-flamengos:centelha:start|Centelha]] divina neles, mas outros perdidos por natureza ou pelo menos obrigado a um grande esforço para se salvar. Para os gnósticos a natureza humana não foi sempre e em toda parte possuidora de algo do divino. É preciso reconhecer que a referência Homem aparentemente dada a Deus Pai, ocorre sempre junto com o uso de Filho do homem. Nos [[gnosticismo:escritos-gnosticos:start|Escritos Gnósticos]] não se dizem que Deus é o homem, mas ao invés que “seu nome” é Homem, que ele é “nomeado” Homem. Nestes escritos há grande relação desta “nomeação” de Deus como Homem, e o Filho do homem. O salvador, de acordo com Valentino, “é originário dos doze eones que nasceram do Homem, e é por isto que ele se chama a si mesmo Filho do Homem, como sendo originário do Homem”. === O “Filho do homem” nos Evangelhos === VIDE Evangelho Filho do homem Pode sua citação nos [[evangelho-de-jesus:evangelhos:start|Evangelhos]] implicar no mito gnóstico do Homem divino? É o que defende Reitzenstein e outros, mas que não tem fundamentação adequada. O uso de Filho do homem por Cristo refere-se à visão de Daniel, segundo vários exegetas. No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia, teve Daniel, na sua cama, um sonho e visões da sua cabeça. Então escreveu o sonho, e relatou a suma das coisas. Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando, numa visão noturna, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o Mar Grande. E quatro grandes animais, diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:levantado-da-terra:start|Levantado da terra]], e posto em dois pés como um homem; e foi-lhe dado um coração de homem. Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne. Depois disto, continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças; e foi-lhe dado domínio. Depois disto, eu continuava olhando, em visões noturnas, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres. Eu considerava os chifres, e eis que entre eles subiu outro chifre, pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas. Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; o seu vestido era branco como a neve, e o cabelo da sua cabeça como lã puríssima; o seu trono era de chamas de fogo, e as rodas dele eram fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e miríades de miríades assistiam diante dele. Assentou-se para o juízo, e os livros foram abertos. Então estive olhando, por causa da voz das grandes palavras que o chifre proferia; estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo destruído; pois ele foi entregue para ser queimado pelo fogo. Quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o domínio; todavia foi-lhes concedida prolongação de vida por um prazo e mais um tempo. Eu estava olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado diante dele. E foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído. (Daniel 7,1-14) Pétremente discorre longa crítica que visa afirmar que a referência a “filho do homem” em Daniel é de fato uma simples referência a “homem” em oposição às quatro “bestas”; ou seja, nada de transcendente, celestial, divino, ser unicamente glorioso. Daniel identifica sue destino com o do Filho do homem, e sua [[biblia:figuras:divindade:start|Divindade]] seria assim também a de Daniel. No entanto para os evangelistas o Filho do homem é definitivamente o Cristo. {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}