===== RENUNCIA ===== [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:ditos-de-jesus:start|Ditos de Jesus]] — RENÚNCIA (Mt XVI, 24-28; Mc VIII, 34-38; Lc IX, 23-27; Lc XIV, 33) VIDE: DESAPEGO; [[philokalia:philokalia-termos:kataphronesis:start|kataphronesis]] [[evangelho-de-jesus:start|Evangelho de Jesus]]: Mt 16:24-28; Mc 8:34-38; Lc 9:23-27; Lc 14:33 CRISTOLOGIA [[medievo:tomas-de-aquino:start|Tomás de Aquino]]: Catena aurea — Lucas IX, Catena aurea — Lucas XIV PERENIALISTAS Roberto Pla: [[gnosticismo:bnh:evangelho-de-tome:start|Evangelho de Tomé]] — [[gnosticismo:bnh:evangelho-de-tome:logion-55:start|Logion 55]] Como a negação não é fácil de efetuar mas muito trabalhosa, se diz dela que há que tomá-la "cada dia" para andar com ela sem pretender salvar a vida ou a alma. A vida, não é a Vida senão o viver do que há de negar porque não é o próprio, e a alma, o que cremos que é a alma, é somente uma sucessão de imagens de nós mesmos, aderidas erroneamente à Glória que realmente somos. Por isso está dito: "quem quiser salvar sua alma, a perderá, mas quem perde sua alma por mim, esse a salvará" (Lc 9,23-24). Tomo a tradução "alma" e não "vida", segundo o texto latino do NT. O vocábulo [[philokalia:philokalia-termos:psyche:start|psyche]] se entende assim com referência às vivências conscientes e não-conscientes. [[gnosticismo:bnh:evangelho-de-tome:logion-68:start|Logion 68]] A negação de si mesmo referia-se Jesus quando dizia: “Se alguém quer me seguir, negue-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me”. Convém esclarecer o alcance profundo dessa negação solicitada por Jesus e parece consistir em uma negação cotidiana e persistente, gradual, de todo os nomes adquiridos no mundo como tesouros agregados na terra, ao Ser estrito, puro, de cada homem. É esta uma ação destruidora prévia que deve ser encaminhada a deixar de sentir-se identificada a alma com tudo o que não é nome [[biblia:figuras:divindade:divino:start|Divino]]. Esse nome — Eu sou o que é — somente revela (com exclusão de qualquer outra coisa), ao [[biblia:figuras:pai-mae-filho:filho:start|Filho]] do Homem — “o que é” — quando em seu seguimento, a alma, já desnuda dos nomes do mundo, acaba por ser só um lugar vazio, tão vazio para os olhos do mundo que a espada da perseguição não encontra onde fundir seu fio. O “lugar” que deve mostrar-se vazio para que nele resplandeça a glória do nome divino, é a alma. O evangelho conhece e explica a possibilidade alternativa em que está o Homem real, quer dizer, o espírito, o Eu puro, muito além da estrutura terrena da alma, de ganhá-la e perdê-la. As referências a alma dadas neste sentido pelo relato evangélico se afirmam sempre em uma contradição, que somente se explica pelo fato bem sabido de que “Ser” no mundo é “nadidade” para o mundo real, quer dizer, que os agregados mundanos, não são nada para o mundo celeste, o mundo do Filho do Homem. Por isso é dito: “De que serve ao homem (a alma), ganhar o mundo inteiro, se se perde ou arruína a si mesmo (o espírito)?” (Lc 9,25). A negação que Jesus reclama ao que quer segui-lo, à alma que pretende chegar a seu si mesmo, ao espírito ou Eu puro, para ser uma só coisa com ele, é sempre uma prescrição prévia de todos os “lugares” ou nome do mundo agregados à alma na vã crença de que são verdadeiros; a negação que pede Jesus exige uma lavação batismal da alma, tão profunda, quanto completa, que deve levar à alma até a situação limite de estar “triste até o ponto de morrer” e finalmente a beber com Jesus aquele cálice de morte que ele bebeu (Mc 10,39), pois a cruz e a morte de Jesus são no evangelho, além disso, figura, explicada pelo evangelho, de todo aquele que segue os passos do Filho do Homem. A contradição reservada à alma aparece escrita em muitos logia evangélicos, mas se pode recordar especialmente na passagem joanica seguinte: “O que ama sua alma a perde, e o que odeia sua alma neste mundo, a guardará para uma [[philokalia:larchet:morte-tradicao-ortodoxa:vida-eterna:start|Vida Eterna]]” ([[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:odiar-tua-alma:start|Odiar tua alma]]). Aqui não é o mundo o que odeia ou prescreve o nome divino, senão a alma que é convocada a odiar os nomes ou componentes do mundo nela incrustados e que erroneamente estima como conformando uma alma mundana. Estes são os que devem ser negados, quer dizer, desmascarados, reconhecidos em sua verdadeira condição de ser um apêndice inadequado da alma. [[gnosticismo:bnh:evangelho-de-tome:logion-87:start|Logion 87]] Jesus o Vivente — a alma de Jesus — tinha que saber bem que a cruz é o limite da Plenitude, o signo terminal que separa ao homem interior, “pleno”, do homem hílico, “deficiente”. Por isso dizia: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me”. Negar-se a si mesmo implica retirar a consciência de sua pétrea identificação com o corpo, o qual é o “objeto” da deficiência, para levá-la, livre, ao outro lado do limite, à Plenitude, onde refulge o Reino de Jesus o Vivente. Este é o caminho, a senda fronteiriça, e a subida ao [[evangelho-de-jesus:paixao:calvario:start|Calvário]], que em si mesma, como vontade de transpassar os limites, é a cruz. Um cristão gnóstico, recordado por [[ate-agostinho:clemente:start|Clemente de Alexandria]], o diz: “Levando Jesus nas costas, nos ombros, às sementes (a Palavra semeada), as introduz — através do signo — no Pleroma”. [[gnosticismo:bnh:evangelho-de-tome:logion-98:start|Logion 98]] [[gnosticismo:bnh:evangelho-de-tome:logion-113:start|Logion 113]] Jesus descreve, em uso paradoxal, o estado extremo da tribulação, e o diz expressando-se como [[biblia:figuras:nt-personagens:cristo:cristo-oculto:start|Cristo Oculto]], o Filho do Homem: "Quem quiser salvar sua alma (vida = psyche), a perderá, mas quem perder sua alma (vida) por mim, a encontrará (Lc 9,24) Não é fácil converter em realidade interior o sentido deste logion onde a dupla acepção da palavra psyche (alma, vida), proporciona uma dificuldade prévia de entendimento. Jesus "manifesto" pede a negação de si mesmo a todos, para chegar através dessa negação e do seguimento do exemplo de Jesus à contemplação do (universal) Filho do Homem. Por essa contemplação não sobrevém até que a negação da alma e da vida perecedora que ela supõe, é absoluta. Por isso diz Jesus que há que perder a alma (psyche, a vida mortal da alma), para encontrar a Vida eterna (psyche), a qual é em si mesma o Filho do Homem. Ou o que é o mesmo: quem quer salvar sua Vida (eterna), deverá perder antes, voluntariamente, sua alma (sua vida perecedora), significada pelo mundo. Isto é uma mudança com ganância. --- Frithjof Schuon: PÉROLAS DO PEREGRINO; RENÚNCIA O dom de si para [[biblia:figuras:divindade:deus:start|Deus]] é sempre um dom de si para todos; dar-se a Deus, ainda que seja sem os demais sabê-lo, é dar-se aos homens. pois neste dom de si tem um valor sacrificial cuja irradiação é incalculável. Ananda Coomaraswamy: NADIFICAÇÃO; ATMANYAJNA EL SACRIFICIO DE SÍ MISMO São estas as palavras de [[biblia:figuras:nt-personagens:cristo:start|Cristo]]: “Eu sou a porta; todo aquele que entrar por mim será salvo; entrará, e sairá.” Não basta ter chegado à porta; precisamos ainda que nos deixem entrar. A entrada, porém, tem um preço. “Quem quiser salvar a sua alma, que a perca.” Dos dois “si mesmos” do homem, os dois Atmans dos textos indianos, aquele que era conhecido pelo nome de Fulano de Tal deve matar a si mesmo para que o outro esteja livre de todos os fardos — “livre como a [[biblia:figuras:divindade:start|Divindade]] em sua não-existência”. {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}