===== FILIAÇÃO ===== [[biblia:figuras:pai-mae-filho:filho:start|Filho]] — [[biblia:figuras:pai-mae-filho:filho:filiacao:start|FILIAÇÃO]] VIDE: [[estudos:ernst-benz:pai:start|Pai]]; FILHO DO HOMEM; [[philokalia:philokalia-termos:huios-tou-anthropon:start|huios tou anthropon]]; GERAÇÃO; PROCESSÃO O termo grego ho huios tou anthropou literalmente significa "o filho do ser humano", tradicionalmente traduzido "o Filho do Homem". Esta tradução é inexata e enganadora porque o grego anthropos designa nossa espécie, homo sapiens, tanto seus membros machos e fêmeas. Ho huios tou anthropou é uma translação de uma expressão idiomática semita. Na [[biblia:start|Bíblia]] hebraica, exceto em casos quando uma parente específico ou ancestral é nomeado, «filho de X» significa o sentido que se tem a qualidade ou natureza de X. Por exemplo, quando [[biblia:figuras:divindade:deus:start|Deus]] repetidamente se dirige a [[biblia:figuras:ezequiel-tetramorfos:start|Ezequiel]] como um "filho de um ser humano" (ben [[biblia:tipologia:adam:start|Adam]] em hebraico), significa "humano" ou "mortal". Outro exemplo claro é o Salmo 8,4, onde a palavra hebraica para um ser humano, adam, tem um coletivo ao invés de um sentido individual: «O que são seres humanos (adam) que é pensativo deles, mortais (ben adam) que preocupastes por eles?» Dois dos [[biblia:figuras:nt-personagens:discipulos:start|discípulos de Jesus]] são identificados tanto como filhos de Zebedeu e «filhos do [[gnosticismo:bnh:trovao:start|trovão]]», um apelido presumivelmente refletindo seus temperamentos. Também refletindo a idiomática semita são «filhos deste mundo» e «filhos da luz», «filhos do reino» e «filhos do maligno», e «filhos de Deus» e «filhos da ressurreição». (Robert J. Miller) [[ate-agostinho:origenes:start|Orígenes]]: HOMÍLIAS SOBRE O LEVÍTICO Nos [[evangelho-de-jesus:evangelhos:start|Evangelhos]] está escrito: "O semeador semeia a palavra" (Parábola do Semeador. Ora quais são aqueles que semeiam? Aqueles que expõem a Palavra de Deus na Igreja. Que eles entendam portanto, aqueles que ensinam: para que não confiem as palavras de Deus à alma "profanada", a alma "prostituída", à alma infiel, que não joguem "o que é sagrado aos cães, e as pérolas diante dos porcos"; mas que escolham almas puras, "virgens" "na simplicidade da fé para com [[biblia:figuras:nt-personagens:cristo:start|Cristo]]", que lhes transmitam os mistérios ocultos, lhes expondo a Palavra de Deus e os segredos da fé, a fim de que nelas "o Cristo seja formado" pela fé. Ou não sabes que desta semente da Palavra de Deus que é semeada, o Cristo nasce no coração dos ouvintes? É o que diz também o Apóstolo: "até que o Cristo seja formado em nós". Logo a alma concebe deste semente da Palavra, e forma nela o [[biblia:figuras:verbo:start|Verbo]] assim concebido, até que nela dê a luz o espírito do temor de Deus. Assim se exprimem pelo profeta as almas dos santos: "Por teu temor, Senhor, concebemos em nosso seio, tivemos em trabalho de parto, e demos à luz; fizemos nascer sobre a terra o espírito de tua salvação" (Is 26,18). Tal é o nascimento das almas santas, tal a concepção, tais as santas [[evangelho-de-jesus:milagres-de-jesus:bodas:start|Bodas]] que convêm e são apropriadas ao Grande Pontífice, o Cristo Jesus nosso Senhor; "a Ele glória e poder para os séculos dos séculos. Amem". [[misticismo-renano-flamengo:eckhart:start|Mestre Eckhart]]: Excertos da ótima versão portuguesa dos "SERMÕES ALEMÃES", de Enio Paulo Giachini O sentido do ser dominante no pensamento medieval é expresso em termos como criação, Criador e criaturas; em resumo, ens creatum (ente criado). Essa categoria fundamental do pensamento medieval, no entanto, na sua tonância essencial de fundo, diz: filiação. Pois é fusão da pré-compreensão do ser da existência artesanal com a pré-compreensão da existência religioso-cristã, onde a última predomina e subsume aquela, transformando-a num sentido do ser todo próprio que se denomina: filiação divina. Nesta, tudo que pode ser de alguma forma referido ao ente, inclusive o próprio nada, é apenas recepção da doação de comunhão com o Ser, denominado Deus, no qual reside a plenitude do ser, de tal modo que fora dele não há ser, nem atual, nem possível, e isso tão radicalmente que ser propriamente só é Deus. Por isso o sentido do ser de Deus deve ser entendido não a partir do sentido do ser de quaisquer que sejam os entes, mas absoluta e exclusivamente a partir dele mesmo. Por isso o ser de Deus é chamado em Eckhart de Abgeschiedenheit, isto é, desprendimento. A esse modo de ser que precisamente não é mais modo, mas simplesmente ser, ou ser como plenitude ab-soluta, a tradição do cristianismo chamou de Deus quoad se Deus enquanto referido a si ou vida interior ou vida íntima de Deus, formulada como Mistério da [[biblia:figuras:santissima-trindade:start|Santíssima Trindade]]. E os termos da compreensão dessa vida, que é o próprio Deus ou o próprio seu, são o uno ou um e o três como pessoa ([[biblia:figuras:pai-mae-filho:pai-filho:start|Pai-FIlho]]-Espírito como dinâmica da gênese da vida divina, resumida nos termos geração e processão ou filiação). O a priori desse sentido do ser, ab-soluto, livre e solto em (in) e a partir de si (a se), portanto, do desprendimento (Abgeschiedenheit) assume o sentido do ente no seu todo como o da existência artesanal medieval, e faz com que a própria compreensão da criação e das criaturas não mais opere a partir e dentro do ser da causação nem do ser da criação artesanal, mas sim a partir e dentro da expansão, da difusão na dinâmica da geração da vida interna de Deus. Essa difusão na dinâmica da filiação se expressa como o mistério da [[evangelho-de-jesus:encarnacao:start|encarnação]]. A causação e a criação são, no fundo, como que repercussão da percussão inicial da filiação divina, repercussão na qual o tom fundamental está sempre ressonante, a se espraiar como eco longínquo da sua dinâmica. Todos os entes referidos à dinâmica da causação e da criação recebem a dinâmica da filiação divina da intimidade da vida interna de Deus, na ternura e no vigor da sua Abgeschiedenheit. Filosofia Michel Henry: EU SOU A VERDADE Por esta razão (nossa condição de Filho de Deus) o discurso do Cristo sobre ele mesmo, quando vem a concernir os homens, pode bem suscitar sua emoção, permanece no entanto incompreensível. Porque os homens não compreendem sua própria condição senão à luz da verdade do mundo. Ser filho para eles quer dizer ser o filho de seu pai e de sua mãe. Nascer quer dizer vir ao mundo, aparecer em tal lugar do espaço, a tal momento do tempo — sair do ventre de sua mãe neste lugar e neste momento, de tal maneira que antes deste nascimento o filho ou o feto se encontraria já no mundo e finalmente sob forma dos germes no corpo de seu pai e naquele de sua mãe. Esta interpretação do nascimento e assim da condição de filho é aquele do homem moderno, percebendo e compreendendo toda coisa na verdade do mundo. A esta visão coisista da origem da humanidade, a ideia de uma proveniência divina se justapõe de maneira misteriosa nos povos antigos. Longe de se reduzir a um simples preconceito, uma tal ideia exprime espontaneamente a vida verdadeira dos homens, sua vida transcendental e invisível tal que eles a vivem imediatamente. Embora a experimentando sem cessar, eles não chegam, em razão de seu caráter invisível, a dela fazer uma concepção correta, nem mesmo a imagem. A suas crenças metafísico-religiosas se ligam neles representações grosseiramente realistas. É a este equilíbrio que põe um termo o advento do pensamento moderno. Afastando deliberadamente a vida transcendental do campo do saber humano circunscrito doravante ao conhecimento objetivo do universo material, a redução galileleana e a ciência que dela saiu portam ao absoluto a interpretação mundana do nascimento e assim da condição de filho. Se o discurso que a modernidade tem sobre o homem alcança por toda parte ao denegrimento deste, a seu abaixamento e finalmente a eliminação de sua individualidade em benefício de processos anônimos inconscientes e assim a sua negação pura e simples, é em forçando a interpretação mundana a seu termo, quando nascimento, filho e homem não são mais, no final das contas, senão metáforas. É esta interpretação mundana do nascimento que o discurso do Cristo sobre ele mesmo faz voar em pedaços. Notável é o fato que é precisamente falando dele mesmo que o Primeiro-Nascido (Primogênito), o Arque-Filho transcendental, se revela capaz, em colocando seu Arque-nascimento na Vida no princípio de todo nascimento concebível, de conferir a este sua significação verdadeira. Assim todo nascimento se encontra compreendido como sendo ele mesmo transcendental, gerado na Vida absoluta e por ela. Ao mesmo tempo que o conceito de nascimento, é aquele de Filho que se acha subvertido, arrancado a toda interpretação natural. Mas esta condição de Filho, de Filho pensado transcendentalmente, proveniente de um nascimento transcendental, é aquele do homem: é o homem ele mesmo que é arrancado à natureza, entregue à Vida. Colocar os conceitos de nascimento e de Filho sob a salvaguarda do Arque-Filho transcendental, é com efeito se referir necessariamente à Vida absoluta da qual o Arque-Filho não é senão a [[philokalia:philokalia-termos:auto:start|auto]]-realização sob a forma de sua auto-revelação. É apelar inevitavelmente a uma outra Verdade que aquela do mundo, a esta Verdade da Vida fora da qual não há com efeito nem nascimento nem Filho, nenhum vivente de nenhuma espécie. {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}