===== HILÁRIO DE POITIERS ===== CRISTOLOGIA — [[ate-agostinho:hilario:start|HILÁRIO DE POITIERS]] (300-368) Excertos de [[estudos:filosofia-medieval:etienne-gilson:start|Etienne Gilson]], FILOSOFIA DA IDADE MÉDIA Santo Hilário de Poitiers (falecido em 368) oferece um excelente exemplo disso. Esse gaulês bem-nascido e de educação pagã só se converteu bem tarde ao cristianismo, após longas reflexões, sobre as quais ele mesmo nos instrui no início de seu De Trinitate (I, 1-10). Impressiona-nos ver o quanto, nesses homens de cultura latina, as preocupações morais sobrepujam as curiosidades puramente metafísicas. Hilário aspirava à felicidade e buscava-a na virtude, mas não podia [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:crer:start|Crer]] que um [[evangelho-de-jesus:logia-jesus:logia-jesus:deus-bom:start|Deus Bom]] nos tivesse dado a vida e a felicidade para em seguida delas nos privar; essa observação levou-o a concluir que Deus devia ser bem diferente das divindades pagãs, isto é, "único, eterno, onipotente e imutável". Se seu relato respeita aqui a cronologia dos acontecimentos, Hilário teria chegado ao monoteísmo procurando resolver o problema da felicidade, antes de ter entrado em contato com as Escrituras. De fato, já é com esses pensamentos que ele leu com surpresa nos livros de [[biblia:tipologia:moises:start|Moisés]] estas palavras do próprio Deus: Ego sum qui sum (Êxodo, III, 14). Essa descoberta foi o começo de sua conversão. A leitura do início do evangelho de São João devia acabar de decidi-lo. Uma doutrina em que Deus se encarnou para que o homem pudesse se tornar [[biblia:figuras:pai-mae-filho:filho:start|Filho]] de Deus e desfrutar da [[philokalia:larchet:morte-tradicao-ortodoxa:vida-eterna:start|Vida Eterna]] era exatamente o que Hilário buscava; ele abraçou, pois, a fé cristã. Composto durante seu exílio na Frigia (365-359), De Trinitate de santo Hilário é uma obra capital na história da teologia latina, mas nela buscaríamos em vão as curiosidades metafísicas de um [[ate-agostinho:origenes:start|Orígenes]], de um [[ate-agostinho:gnissa:start|Gregório de Nissa]] ou mesmo de um Agostinho. Como todos os apologistas latinos, Hilário nota o contraste das opiniões múltiplas e contraditórias dos autores pagãos com a clareza e a unidade da doutrina cristã. O texto do Êxodo que o impressionara tão vivamente não deveria ser esquecido por ele em seus escritos. Ele o entende no sentido de que "nada é mais próprio a [[biblia:figuras:divindade:deus:start|Deus]] do que o ser", que é o exato oposto do nada. Preludiando certas teses fundamentais do agostianismo, Hilário liga estreitamente essa noção de Deus à de imutabilidade, pois "aquilo que é" não poderia ter começado nem poderia acabar. O esse puro é, pois, imutável, eterno, de uma suficiência ontológica absoluta e de uma perfeita simplicidade. Santo [[medievo:tomas-de-aquino:start|Tomás de Aquino]], a quem a obra de Hilário era familiar, valeu-se dessa espécie de dedução dos atributos de Deus a partir da noção de esse. Certamente, seria possível recolher em suas obras outras noções de alcance filosófico, mas elas não se encontram aí por si mesmas, e sua expressão é tão fragmentária que por vezes nos perguntamos como defini-las. No que concerne à espiritualidade da alma, por exemplo, ainda não há acordo sobre o que Hilário pensava. São problemas que ele encontra, mas nos quais não se detém. {{indexmenu>.#1|skipns=/^playground|^wiki/ nsonly}}